O
Argumento de Leibniz - final
Alternativa ateísta: “O
universo existe necessariamente!”
O que os
ateístas podem fazer a esta altura? Eles têm a seu dispor uma alternativa mais
radical. Podem voltar atrás, retirar sua objeção à peneira premissa t dizer, em
vez disso que, sim, o universo tem sim uma explicação para existir Mas que essa
explicação e a seguinte:
O universo existe por uma necessidade de sua
própria natureza.
Para eles, o
universo serviria como uma espécie de substituto de Deus que existe
necessariamente. Ora, esse seria um passo muito radical para eles, e de fato não
consigo me lembrar de nenhum defensor do ateísmo que tenha adotado essa linha
de raciocínio. Há alguns anos, em uma conferência no Santa Barbara City College
sobre a filosofia do tempo, cheguei a pensar que o professor Adolf Grunbaum, um
beligerante ateu e filósofo da ciência da Universidade de Pittsburgh, estava
flertando com essa ideia. Mas quando levantei a questão sobre se ele pensava
que o universo existia necessariamente, ele ficou positivamente indignado com a
minha sugestão.
"Claro que
não”, vociferou ele e prosseguiu, dando seqüência à alegação de que o universo
apenas existe sem qualquer explicação. A razão pela qual os ateístas não
parecem ansiosos para abraçar essa alternativa é clara. Quando olhamos para o
universo, vemos que nenhuma das coisas que o compõem, sejam as estrelas, os
planetas, as galáxias, a poeira cósmica, a radiação ou o que quer que seja
parece existir necessariamente. Todas essas coisas poderiam deixar de existir;
na realidade, em algum momento do passado, quando o universo era muito denso, nenhuma
delas existia.
Mas pode ser
que alguém diga: “E quanto à matéria da qual essas coisas são feitas? Talvez a
matéria exista necessariamente, e todas essas coisas sejam apenas configurações
diferentes de matéria. O problema com essa possibilidade é que, de acordo com o
modelo padrão da física subatômica, a própria matéria é composta por minúsculas
partículas fundamentais que não podem continuar a ser decompostas. O universo é
apenas um conjunto dessas partículas arranjadas de diferentes maneiras. Mas
agora surge a seguinte questão: Não poderia ter existido um conjunto diferente
dessas partículas fundamentais em vez desse que temos? Cada uma dessas partículas
existe necessariamente?
Observe bem o
que os ateístas não podem dizer a respeito disso. Eles não podem dizer que as
partículas subatômicas elementares são meras configurações da matéria e que
poderiam ter sido diferentes do que são, mas que a matéria de que elas são
compostas existe necessariamente. Eles não podem dizer isso, pois as partículas
subatômicas elementares não são compostas de nada! Elas são apenas unidades
básicas de matéria. Assim, se uma partícula específica não existir, a matéria
não existe.
Parece evidente
que um conjunto diferente de partículas elementares poderia ter existido em vez
desse que existe. Mas se fosse esse o caso, então teria existido um universo
diferente. Para entender esse ponto, pense em sua escrivaninha. Poderia ela ter
sido feito de gelo? Note bem que não estou perguntando se você poderia ter tido
uma escrivaninha de gelo em lugar da sua escrivaninha de madeira, que fosse do
mesmo formato e tamanho. Antes estou perguntando se a sua própria escrivaninha,
essa que é feita de madeira, se essa mesma escrivaninha poderia ter sido feita
de gelo. A resposta obviamente é não. Se fosse feita de gelo seria uma escrivaninha
diferente e não a mesma que você tem.
Do mesmo modo,
um universo composto de diferentes partículas subatômicas, ainda que elas
fossem arranjadas de forma idêntica nesse universo, seria um universo
diferente. Segue-se, portanto, que o universo não existe por uma necessidade de
sua própria natureza.
Ora, alguém
poderia fazer uma objeção, dizendo que o corpo humano continua idêntico com o
passar do tempo, a despeito de haver uma troca completa do material de seus
constituintes por novos constituintes. Afirma-se que a cada sete anos a matéria
que compõe nosso corpo é quase que completamente reciclada. Ainda assim, meu
corpo é idêntico ao corpo que eu tinha antes. Por analogia, alguém poderia
dizer que vários possíveis universos poderiam ser idênticos muito embora fossem
compostos de diferentes conjuntos de partículas subatômicas.
A falta de
analogia crucial, entretanto, é que a diferença entre possíveis universos não é
absolutamente alguma espécie de mudança, pois não existe um sujeito que
subsista e que vá passando por mudanças intrínsecas de um estado para outro.
Logo, universos feitos de partículas diferentes não são como as fases
diferentes pelas quais passa o meu corpo. Antes, são como dois corpos que não
possuem qualquer conexão um com o outro, absolutamente.
Ninguém pensa
que cada partícula subatômica do universo exista por uma necessidade de sua
própria natureza. Segue-se que o universo, composto de tais partículas, também
não existe por uma necessidade de sua própria natureza. Note que o caso
permanece o mesmo quer estejamos pensando no universo como sendo em si um objeto
(assim como uma estátua de mármore não é idêntica a outra estátua feita de
mármore diferente) ou pensando nele como sendo um conjunto ou grupo (assim como
um bando de pássaros não é idêntico a outro bando composto de pássaros
diferentes), ou mesmo como sendo absolutamente nada além das partículas em si.
Minha tese de
que o universo não existe necessariamente fica ainda mais óbvia quando pensamos
que parece ser inteiramente possível que os elementos fundamentais que
constituem a natureza poderiam ter sido substâncias inteiramente diferentes as
partículas subatômicas que
hoje temos. Tal universo se caracterizaria por leis da natureza diferentes.
Ainda que tomemos nossas leis da natureza como algo logicamente necessário,
ainda assim é possível que existissem diferentes leis por causa das substancias
dotadas de propriedades e capacidades diferentes das nossas partículas
subatômicas poderiam ter existido. Nesse caso estaríamos claramente lidando com
outro tipo inteiramente diferente de universo.
Portanto, os
defensores do ateísmo não foram tão ousados a ponto de negar a segunda premissa
e dizer que o universo existe necessariamente. Como a primeira premissa, a
segunda premissa também parece ser verdadeira em termos de plausibilidade.
Conclusão
Dada a verdade
dessas três premissas, não há como escarparmos da seguinte conclusão lógica:
Deus é a explicação da existência do universo. Além disso, o argumento implica
que Deus é não causado, uma mente não encarnada em um corpo, que transcende o
universo físico e até mesmo o tempo e o espaço, e que existe necessariamente. Tal
conclusão é assombrosa! Leibniz expandiu nossas mentes muito além das questões
mundanas da vida cotidiana.
Willian Lane
Graig