terça-feira, 28 de junho de 2011

G. K. Chesterton

Adaptação de prefácio (Philip Yancey) e resenha (Eliel Vieira) de Ortodoxia

Gilbert Keith Chesterton, conhecido como G. K. Chesterton, (Londres, 29 de maio de 1874 – Beaconsfield, 14 de junho de 1936) foi um escritor, poeta, narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, teólogo, filósofo, desenhista e conferencista britânico. Na obra Ortodoxia, expõe a sua fé em Deus e inicia um debate em oposição à descrença ateísta. A capacidade de Chesterton de escrever coisas sérias na forma de piadas sem deixar a seriedade da questão de lado é impressionante. Fazendo uso do paradoxo, deixa-nos boquiabertos com suas ideias. Chesterton influenciou não poucos brilhantes do último século. Ghandi e Luther King o liam avidamente; C. S. Lewis o considerava seu pai espiritual.
            Chesterton enxergava o mundo como uma espécie de naufrágio cósmico. Na busca por significado, somos como um marinheiro que acorda de um sono profundo e descobre peças e relíquias de um tesouro procedente de alguma civilização esquecida. [...] ele apanha as relíquias — moedas de ouro, bússola, roupas finas — e tenta discernir o seu significado. Chesterton afirma que a humanidade vive essa condição. As coisas boas da terra — o mundo natural, a beleza, o amor, a alegria — apresentam traços de seu propósito original, mas cada uma delas pode ser incompreendida ou mal utilizada por causa de nossa natureza decaída e amnésica. Após uma longa odisséia de dúvidas e ceticismo, Chesterton retornou à fé porque entendeu que somente o cristianismo fornecia as pistas para solucionar o mistério sobre essas relíquias.
Em primeiro lugar, intuí que este mundo é incapaz de explicar- se. Segundo, passei a acreditar que o sobrenatural deve ter algum significado, e que isso pressupõe a existência de alguém que lhe empresta sentido. Havia algo de muito pessoal no mundo, como se fosse uma obra de arte. Terceiro, considerei bela a antiga forma desse propósito, apesar de seus defeitos, assim como são belos os dragões. Quarto, concluí que a maneira mais apropriada de expressar gratidão a essa entidade é cultivar humildade e discrição, assim como devemos agradecer a Deus por vinho Burgundy, evitando beber em excesso. Por último, estranhamente me veio à mente uma impressão vaga e vasta de que todo bem é um vestígio que deve ser guardado e consagrado, devido à sua procedência de alguma ruína primordial”(CHESTERTON, 2008, p.8-9 - adaptado).
            Chesterton reconhecia que a igreja não representava bem o evangelho. Dizia que o comportamento lamentável dos cristãos gerava de fato o argumento mais forte contra o cristianismo. Os cristãos são prova cabal daquilo que a Bíblia ensina sobre a Queda. Certa vez o jornal London Times pediu a alguns escritores que respondessem à pergunta: “O que há de errado com o mundo?”. Chesterton enviou a resposta mais sucinta: Prezados Senhores: Eu.
            Em debates com intelectuais da época, o escritor rejeitava a lógica científica para refutação da fé. Com argumentos paradoxais expunha razões que não esclareciam definitivamente questões sociais e existenciais. Em resposta às motivações contra o cristianismo de um editor, Chesterton afirmou: “Se eu oferecesse todas as minhas razões para ser cristão, a grande maioria seria exatamente as razões que o senhor Blatchford daria para não o ser”. O autor rejeita ainda asexplicações excessivamente lógicas e racionais para explicação do mundo, justificando seu argumento da seguinte forma:
A imaginação não gera a insanidade. O que gera a insanidade é exatamente a razão. Os poetas não enlouquecem; mas os jogadores de xadrez sim. Como se verá, não estou aqui, em nenhum sentido, atacando a lógica: só afirmo que esse perigo está na lógica, não na imaginação.
Em todas as partes vemos que os homens não enlouquecem sonhando. Os críticos são muito mais loucos que os poetas. Shakespeare é exatamente Shakespeare; apenas alguns de seus críticos é que descobriram que ele era alguma outra pessoa. O fato geral é simples. A poesia mantém a sanidade porque flutua facilmente num mar infinito; a razão procura atravessar o mar infinito, e assim torná-lo finito. O resultado é a exaustão mental. Aceitar tudo é um exercício, entender tudo é uma tentação. O poeta apenas pede para pôr a cabeça nos céus. O lógico é que procura pôr os céus dentro de sua cabeça. E é a cabeça que se estilhaça. A última coisa que se pode dizer de um lunático é que suas ações são sem causa, pois o louco em geral vê causa demais em tudo. Se você discutir com um louco, é extremamente provável que leve a pior; pois sob muitos aspectos a mente dele se move muito mais rápido por não se atrapalhar com coisas que costumam acompanhar o bom juízo. Ele não é embaraçado pelo senso de humor ou pela caridade, ou pelas tolas certezas da experiência. Ele é muito mais lógico por perder certos afetos da sanidade. De fato, a explicação comum para a insanidade nesse respeito é enganadora. O louco não é um homem que perdeu a razão. O louco é um homem que perdeu tudo exceto a razão. A explicação oferecida por um louco é sempre exaustiva e muitas vezes, num sentido puramente racional, é satisfatória. Ou, para falar com mais rigor, a explicação insana, se não for conclusiva, é pelo menos incontestável (CHESTERTON, 2008, p. 20-22 – resumo e adaptação).

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