sexta-feira, 20 de abril de 2012

O ALCOOLISMO E AS RELAÇÕES HUMANAS


 Por Carlos Carvalho e Cristina Carvalho

O alcoolismo é definido mais simplesmente como uma doença resultante do abuso do álcool1. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que quase 4% de todas as mortes no mundo são atribuídas ao álcool e que o consumo abusivo provoca 2,5 milhões de mortes anuais2.

No Brasil, o alcoolismo está presente em 25% dos suicídios,
50% dos homicídios, responsável por 10% das faltas ao trabalho e 90% das internações psiquiátricas são por envolvimento com o álcool. 20% de todas as internações psiquiátricas do SUS (Sistema Único de Saúde) decorrem de transtornos mentais provocados pela bebida em excesso3.
Segundo a mesma OMS, existem apenas três tipos de consumo de álcool: (1) o consumo de risco – que se continuado pode gerar danos físicos e mentais. (2) o consumo nocivo – causam danos, mas não é a dependência ainda, e (3) a dependência – caracterizada por comportamento repetitivo, descontrolado e de intenso desejo de consumo apesar das conseqüências4.

Observemos quatro tópicos escolhidos para tratar desta problemática e como ela se relaciona com o indivíduo que possui comportamento dependente, compulsivo e prolongado exposto ao consumo do álcool. Vejamos sua relação com a família, com os amigos, com o trabalho e no trânsito.

O ALCOOLISMO E AS RELAÇÕES DE FAMÍLIA

Não são necessários muitos dados ou pesquisas de qualquer espécie para comprovar os danos causados pelo consumo de álcool nas famílias. É quase impossível que alguém não possua em sua própria família algum caso de alcoolismo e quais as conseqüências que isso causa no dia-a-dia e nos relacionamentos dentro de casa.
A imagem da pessoa dependente ou compulsiva é deteriorada na família, as relações conjugais sofrem um desgaste muito forte, o relacionamento com os filhos ou com os pais são prejudicados continuamente, brigas, desentendimentos e abusos físicos ou violência quase sempre são comuns nestes casos.
Aumento da agressividade no lar, aumento da ansiedade relacional, diminuição das boas expectativas do casamento e da continuidade da família, aumento de problemas psicológicos causados pela destruição da paz interna dos familiares e aumento do estresse que tudo isso gera, são lugar comum.

Como se não bastasse, a quantidade de problemas financeiros que a pessoa ou a família enfrenta é grande. Dívidas, queda do poder de compra em virtude do consumo alcoólico, a perda da saúde e conseqüentemente os gastos com tratamentos e remédios são fatos reais.

Qualquer família que tem alguém com esse problema sofre e sofre muito. Todos sabem dos efeitos nocivos do álcool, contudo parece haver um consenso geral em se permitir ou deixar que desde cedo essa prática se estabeleça sem maiores tentativas de proibição no seio da família
.
O ALCOOLISMO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO

É sabido que em nosso país, o alcoolismo é o terceiro motivo para as faltas no trabalho, é a causa mais comum para aposentadorias precoces, é a causa principal de acidentes no trabalho e a principal causa para se conceder o auxílio-doença pela Previdência Social.5

O alcoolismo ainda causa uma pequena lista negativa de ocorrências trabalhistas, como por exemplo:

 Atrasos
 Queda de produtividade
 Desperdício de materiais
 Sonolência
 Conflitos com colegas de trabalho
 Conflitos com os superiores
 Dificuldades de compreender novas instruções
 Dificuldades de reconhecer os erros cometidos
 Reações exageradas às críticas e
 Variação constante do estado emocional6

Essas são situações extremamente comuns nas empresas e ainda não se tem dados mais aprofundados sobre quantas demissões por justa causa ou sem justa causa (dependendo do superior na situação) o alcoolismo provoca no setor trabalhista.

Existem muitos fatores que propiciam esses problemas no ambiente de trabalho, mas em linhas gerais, o alcoolismo não começa no trabalho ou quando a pessoa passa por causa dele a ter mais recursos para consumir.

É possível que um indivíduo passe a consumir mais álcool do que o seu normal por conta do aumento de convocações por parte de seus colegas ao final de sua jornada de trabalho, mas isso ainda não é um indicador da causa do problema, deixando claro que ele somente passará a aumentar seu ritmo de consumo, não que iniciou esse consumo.

O fato é que o alcoolismo causa grave dano à pessoa que foi envolvida e vencida por ele e também o seu desempenho fica comprometido, como comprometido certamente já está nas outras áreas de sua vida. Não somente sua imagem é estigmatizada no local de trabalho, mas também fora dele essa imagem é levada por onde passa.

O ALCOOLISMO E A VIDA SOCIAL

É comum se pensar que beber socialmente é aceitável no Brasil por parte da maioria das pessoas, mas isso não passa de uma ilusão com conseqüências desastrosas para quem o faz.

É interessante notar que em nenhum relatório de nenhum governo ou agência global, o consumo moderado de álcool aparece como algo mensurável.

Isso porque quantificar o que seja moderado ou aceitável em termos de consumo alcoólico é extremamente difícil. Ora por causa do organismo de cada pessoa que reage diferente em cada caso, ora porque definir esses valores gera discussões e polêmicas nas quantificações.
E ninguém deseja ser culpado de criar dependentes.

Os veículos de propaganda de massa que dispomos hoje alardeiam uma imagem que dificilmente poderia ser real na vida de quem de fato consome o álcool continuamente ou “socialmente”. Isso porque beber com moderação não é quantificável em termos científicos e biológicos.

Algumas pessoas adquirem resistência ao álcool por causa da dependência ao mesmo e pensam que seu corpo é forte o suficiente para consumir quantidades cada vez maiores. Mas isso não é verdadeiro. O que está presente neste caso é um processo de dependência e não vigor físico.

Então, “beber socialmente” parece ser mais uma abstração da mente de quem está entrando num curso de dependência compulsiva e seu organismo está justificando o ato, do que de fato uma realidade aceitável transmitida pelas propagandas das empresas de bebidas, que ganham fortunas diariamente com o vício das pessoas e pagam nada pelo problema que causam, mesmo que indiretamente.

Consumir o álcool afeta suas relações sociais de diversas formas. Seja com repentina agressividade que salta em cena numa conversa, numa crítica ou brincadeira não bem recebida ou entendida, seja numa explosão emocional não esperada ou por verbalizações inadequadas que saem sem controle da pessoa.

O consumo alcoólico em pequenas quantidades tem um efeito desinibidor e dá a falsa sensação de que melhora ou amplia as relações sociais, mas ao contrário disso, não é possível para a grande maioria das pessoas controlarem seu consumo após iniciá-lo e isso causará transtornos posteriores. 

Como problemas de convívio social resultados do consumo do álcool podemos apontar: injúrias intencionais cometidas contra si mesmo, como certas violências e autoflagelação; violências e agressões contra os outros; violência contra a mulher e contra crianças; diminuição da autodefesa em situações de risco e exposição facilitada ao perigo.

O ALCOOLISMO E O TRÂNSITO
É sabido que cerca da metade dos acidentes fatais de trânsito é causado por ingestão de álcool ou por pessoas alcoolizadas que ultrapassam os limites de segurança estabelecidos.

Claro que muitos outros fatores contribuem para as mortes, lesões e amputações no trânsito brasileiro, mas o consumo do álcool está na cabeceira da lista.

Para limitarmos os dados, vamos analisar apenas as informações que a Secretaria de Estado de Segurança Publica disponibilizou sobre essa relação do álcool e o trânsito nos meses de janeiro a outubro deste ano7. Na capital de São Paulo, neste período destacado, 170 mil pessoas foram submetidas ao teste do bafômetro e 2,7 mil delas estavam embriagadas, ou seja, cerca de 1,6% dos motoristas.

Se fizermos uma grosseira comparação com o número de acidentes registrados até outubro deste ano pela mesma Secretaria8, veremos que aconteceram 2.359 acidentes nas ruas, estradas e vias de São Paulo. Isso significa que até aqui, o número de pessoas alcoolizadas supera o número de acidentes e esses números são somente os das blitze, não são os números reais das pessoas que dirigem na capital.

CONCLUSÃO

Diante do que foi exposto, é necessário uma tomada de decisão mais séria por parte de cada indivíduo, no sentido de se abster de um falso “prazer” que se constitui em algo passageiro e que pode acarretar dependência e graves problemas de saúde pessoal.

É mister que a família passe a observar mais acuradamente o comportamento dos seus menores, visto que cada vez mais cedo, as pessoas passam a consumir álcool hoje e o futuro desse adolescente ou jovem já está comprometido, mesmo que não pense ou aceite esse fato.

É também necessário que as autoridades e poderes constituídos se debrucem seriamente sobre o tema para que se gere em nosso pais leis mais rígidas e severas, não apenas multas ou pontos na CNH, mas legislação sólida que abarque inclusive uma espécie de cadastro de pessoas que desrespeitem as leis de trânsito e os impeçam a longo prazo de poder conduzir veículos e, quem sabe, até a criminalização do ato de conduzir embriagado. 5

O nosso sistema de saúde é prejudicado por atender e consumir recursos em situações que as pessoas literalmente descumprem as leis de segurança e geram gastos desnecessários se elas fossem cumpridas. Quantas pessoas não são atendidas nos prontos-socorros, em consultas de emergência ou exames que podem salvar suas vidas, pelo simples fato que os profissionais são deslocados para atendimentos de acidentes de trânsitos?

A caminhada é árdua e longa para alcançarmos e atingirmos sucesso na luta contra a dependência alcoólica, mas ela começa no indivíduo consciente de suas responsabilidades e deveres, não somente nos seus “direitos”. Muito se fala em direitos, mas pouco em deveres e responsabilidade pessoal.

REFERÊNCIAS
PSIQUE, Ciência e Vida Encadernado 01, n.46 – ISSN 1809-0796, São Paulo: Editora Escala, 2010
Legenda
1Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa – vol.I, São Paulo: SEDEGRA, 1973
2Disponível :http://exame.abril.com.br/economia/mundo/noticias/oms-alcool-mata-mais-que-aids-violencia-e-tuberculose. Acesso em: 02;12/2011.
3Disponível em:www.unip.br/comunicacao/publicacoes/ics/edicoes/2007/02_abr_jun/V25_N2_2007_p113-119.pdf. Acessado em 02/12/2011
4Disponível em: www.min-saude.pt/portal/printversion?contentGUID=(F74077DD-0CAD-4F.. Acessado em: 02/12/2011
5Disponível em: www.bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/021anais_seminario.pdf. Acessado em: 02/12/2011
6Ibid.
7Disponível em: http://www.ssp.sp.gov.br/noticia/lenoticia.aspx?id=25719 Acessado em: 02/12/2011
8Ibid.

Um comentário:

  1. INFELISMENTE,, AS LEIS BRASILEIRAS SAO BRANDAS, SENDO ASSIM NAO SAO LEVADAS A SERIO E TEMOS QUE CONVIVER COM ESSE PESADELO. QUE E OS ACIDENTE NAS RODOVIAS ,,BRASILEIRAS

    E FALANDO DA PARTE DO ALCOLISMO NA FAMILIA O QUE EU POSSO , ANALISAR QUE ISSO SO SERA RESOLVIDO QUANDO O HOMEM ENTENDER,QUE ELE MESMO E QUEM PRESISA TOMAR UMA DECISAO DE MUDANÇA DE VIDA..

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