sexta-feira, 25 de outubro de 2013


Pedras do sapato da Cosmologia

Em artigo publicado na revista Ciência e Cultura, o professor associado do Instituto de Física da USP, Raul Abramo, disserta sobre o “estranho universo em que vivemos” e nos mostra o que hoje ainda se constitui alguns dos mistérios de nosso universo, como o seu “lado escuro” (a matéria escura), a sua recente aceleração e a energia escura.
O professor nos revela que em resumo, a matéria e energia do universo, se compõem basicamente por:
4% de matéria normal (átomos, estrelas, planetas e, principalmente gás).
26% de matéria escura (que deve ser algum tipo de partícula elementar ainda desconhecida).
70% de energia escura (componente sobre a qual nada se sabe, a não ser que esta deve ser a causa da recente aceleração da expansão do universo).

Segundo o professor Raul, “ninguém pode estar satisfeito com a situação onde, para explicar os fenômenos do cosmos, precisamos apelar para dois tipos distintos de substâncias invisíveis”. A matéria escura poderá vir a ser detectada em experimentos futuros na física de partículas, pois ela já foi prevista nos modelos em que a matéria escura interage, em pequena medida, com as partículas que se conhece em aceleradores como o Cern (sigla da organização da Europa para as pesquisas nucleares).

Porém, segundo o professor, a energia escura, não desfruta da mesma possibilidade. Para ele, não parece haver a “menor perspectiva de jamais ser detectada diretamente em laboratório, ou mesmo por algum telescópio terrestre” e pode alterar as noções básicas do Modelo Cosmológico Padrão (MCP) que se tem hoje. Se essa é a real situação, como ainda podem alguns nos considerar ignorantes quando falamos de Design e Teísmo?

É certo que o artigo do professor Raul não se destina à defesa do teísmo, do ateísmo ou de qualquer outro ponto de vista fora de seu âmbito científico, nem estou dizendo que ele tem esta ou aquela posição em relação aos assuntos da fé ou da não-fé, apenas considerei interessante suas questões sinceras e moderadas sobre o conhecimento ou a falta dele acerca de nosso universo. Sobre isso dá para se pensar bastante, não?

© Carlos Carvalho

Fonte:
O Estranho Universo em que Vivemos. Raul Abramo. Revista Ciência e Cultura, vol.61, n.4. on line version ISSN 2317-6660. São Paulo, 2009. Disponível em:
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-7252009000400010&script=sci_arttext

Imagem: Aglomerado de galáxias de Coma.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Bíblia & Ciência estrita

Espero não ser mal compreendido com o que escrevo pela comunidade de cristãos que como eu, têm fé sincera em Deus e em sua Palavra. Sou um homem de fé, sou cristão há mais de duas décadas, minha primeira formação é Teologia e, portanto, falo a partir do meio onde vivo e partilho as minhas convicções.

Durante os séculos que chamamos de idade medieval, que certamente se encerrou com o advento da Reforma Protestante, a Igreja Católica detinha o controle das produções científicas e artísticas do mundo que governava. Politicamente e espiritualmente possuía o destino das vidas de milhões de pessoas no mundo de então. Era um poder que poucos desejariam desafiar.

Neste período, mesmo que equivocadamente tentando proteger a fé em Deus (isto por parte de pessoas sinceras que criam de fato nisso, sem mencionar os oportunistas e profanos), essa instituição declarava que as Escrituras era um compêndio não somente de textos revelacionais sobre Deus e seu Cristo, mas também era uma obra de cunho científico, ou seja, adotavam um literalismo bíblico mesmo em questões de ciências.

Ainda hoje esse literalismo bíblico em questões científicas sobrevive e têm adeptos mesmo no meio Protestante e evangélico. Mas a Bíblia não é um livro de assuntos científicos. Mesmo crendo que de fato em suas poucas declarações de ordem científicas ela seja verdadeira, a realidade é que ela se interessa por assuntos como a revelação de Deus, sua relação com o homem e Israel, o conhecimento de Jesus Cristo e a prática da vida piedosa.

Nestes últimos dias tenho lido alguns textos interessantes sobre Calvino e me ative o quanto seus escritos são importantes, mas poucos conhecidos do povo em geral e também dos cristãos atuais. Impressiona-me a sua Teoria da Acomodação, que ele descrevia como um forma de libertar a Bíblia do literalismo da época e para libertar as ciências dando a ela curso livre na busca pela descoberta sobre os detalhes da criação.

Sobre esse aspecto particular apresento algumas porções de textos e frases de Calvino e de outros cientistas que, como ele, tinham uma percepção mais acurada da relação entre a Bíblia e a ciência que nos falta hoje. João Calvino disse:
O ponto principal das Escrituras é trazer-nos a um conhecimento de Jesus Cristo... As Escrituras nos proveem com um espetáculo, através do qual nós podemos ver o mundo como a criação de Deus e sua autoexpressão; elas jamais pretenderam prover-nos com um repositório infalível de informações astronômicas e médicas.

Alister McGrath, comentando a teoria da acomodação de Calvino a resume assim:
Deus, ao se revelar a nós, acomodou-se aos nossos níveis de entendimento e às nossas preferências naturais por meios ilustrativos de compreendê-lo. Deus se revela, não como ele é em si mesmo, mas em formas adaptadas à nossa capacidade humana.

O famoso astrônomo Phillips van Lansbergen (1562-2632), comentando as Escrituras escreveu:
...segundo a situação real, mas segundo as aparências...a Escritura foi-nos outorgada por inspiração de Deus, e deve ser usada para doutrina, exprobração, correção, e para o exercício da probidade, mas não é própria para o ensino da geometria e da astronomia.

Johannes Kepler também escreveu:
As Sagradas Escrituras falam sobre coisas comuns (no ensino daquilo para o qual elas não foram instituídas) a criaturas humanas, numa maneira humana, para que possam ser compreendidas pela humanidade; elas usam o que geralmente é reconhecido pelas pessoas, a fim de fazê-las entender outras coisas, mais elevadas e divinas[1]

O pensamento de Calvino encontrou reflexo até nos escritos de Isaac Newton (1643-1727) e de muitos cientistas cristãos de sua época e posterior. Por isso minha tendência é a de concordar com esses homens que não somente fizeram história com sua vida, estudos e escritos, mas mudaram a própria História da ciência e do mundo Ocidental.

© Carlos Carvalho



[1] Todas essas citações retirei de um excelente artigo de Wilson Porte Jr. no site da revista Teologia Brasileira. No artigo há todas as referências bibliográficas das declarações. Disponível em: http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=350

domingo, 13 de outubro de 2013


Improbabilidade da existência do Universo como o conhecemos

Algumas considerações são extremamente importantes para lançar em nossa mente sérias questões em relação ao modelo científico que tem sido apresentado a nós do universo no qual vivemos.

“Tenho que concordar. O Big Bang grita por uma explicação divina. Obriga à conclusão que a natureza teve um princípio definido. Não consigo ver como a natureza pôde ter-se criado. Apenas uma força sobrenatural, fora do tempo e do espaço, poderia tê-la originado”.[1]

“A existência de um universo como o conhecemos repousa no fio da navalha das improbabilidades.”[2]

“Ao todo, existem quinze constantes físicas cujos valores a atual teoria não consegue predizer. São dadas: simplesmente têm o valor que têm. A lista inclui a velocidade da luz, a potência das forças nucleares forte e fraca, diversos parâmetros associados ao eletromagnetismo e a força da gravidade. A probabilidade de todas essas constantes terem os valores necessários para resultar em um universo estável, capaz de sustentar formas de vida complexas, quase tende ao infinito. E, no entanto, elas apresentam exatamente os parâmetros que observamos. Em resumo, nosso universo é monstruosamente improvável.”[3]

“E claro que a visão de mundo científica não é totalmente suficiente para responder a todas as questões interessantes acerca da origem do universo e não há nada essencialmente em conflito entre a ideia de um Deus criador e o que a ciência revelou. Na verdade, a hipótese de Deus soluciona algumas questões de profundidade mais problemáticas sobre o que veio antes do Big Bang e por que o universo parece tão exatamente acertado para que estejamos aqui.”[4]

Francis S. Collins
A Linguagem de Deus.
(Versão digital. 2007)



[1] A linguagem de Deus. Francis Collins, p. 75
[2] Ibid, p.80
[3] Ibid, p.81
[4] Ibid, p.87

terça-feira, 1 de outubro de 2013


A MORTE DO POSITIVISMO LÓGICO

O positivismo lógico, como alguns devem lembrar, foi a filosofia introduzida por um grupo europeu, chamado de Círculo de Viena, no início da década de 1920, e que A. J. Ayer popularizou nos países de língua inglesa com seu livro Linguagem, verdade e lógica, publicado em 1936.

De acordo com os positivistas lógicos, as únicas afirmações significativas eram aquelas cuja verdade podia ser confirmada através de experiência racional, simplesmente em virtude de sua forma e do significado das palavras usadas. Assim, uma afirmação era considerada significativa se sua verdade ou falsidade pudessem ser comprovadas pela observação empírica — por exemplo, estudo científico.

As afirmações da lógica e da matemática pura eram tautologias, isto é, eram verdadeiras por definição, simples modos de usarem-se símbolos que não expressavam nenhuma verdade a respeito do mundo. Não havia mais nada que pudesse ser descoberto ou discutido coerentemente.

O centro do positivismo lógico era o princípio da comprovação que estabelecia que a significação de uma proposição consiste de sua comprovação. Como resultado, as únicas afirmações significativas eram aquelas usadas na ciência, na lógica ou na matemática. Afirmações de metafísica, religião, estética e ética não tinham significação, literalmente, porque não podiam ser comprovadas por métodos empíricos. Não eram válidas, nem inválidas.

Ayer disse que é tão absurdo ser ateísta quanto teísta, porque a afirmação "Deus existe" simplesmente não tem significado. Como qualquer história da filosofia mostrará o positivismo lógico de fato arruinou-se na década de 1950 por causa de suas inconsistências internas.

O próprio Sir Alfred Ayer, em uma contribuição que fez a uma antologia, declarou: "O positivismo lógico morreu muito tempo atrás. Acho que uma grande parte de Linguagem, verdade e lógica não é verdadeira. Penso que o livro está cheio de erros. Penso que foi um livro importante em seu tempo porque teve um tipo de efeito catártico. Mas, analisando os detalhes, vejo que está cheio de erros que passei os últimos cinquenta anos corrigindo ou tentando corrigir".

Carlos Carvalho

Referência:


Deus existe. Antony Flew. – São Paulo: Ediouro, 2008. p.8 ss.