by Carlos Carvalho
4 de outubro de 2012
O Brasil, se não é plenamente, está caminhando para tornar-se um país de
direito, democrático e de plenas liberdades civis. Neste contexto, todos têm
liberdade de crenças garantidas pela própria Carta Magna, incluindo a liberdade
de não crer em Deus ou em nada. Isso é parte fundamental de um Estado de
direito, onde qualquer pessoa tenha suas escolhas pessoais de fé, de
consciência e até mesmo de sexualidade.
Não cabe e nem se espera que o Estado interfira em assuntos religiosos e
não-religiosos (dos que não possuem alguma religiosidade), nem atue como
árbitro em assuntos de moralidade e sexualidade de seus cidadãos (desde que não
firam a sociedade). É esperado e salutar que este Estado contribua para a paz
social, para o bem-estar de todos, forneça segurança e os benefícios
assegurados pelas leis ao seu povo.
O ateísmo que tenho visto e ouvido verborragicamente gritado nas redes
sociais e por uns poucos acadêmicos em nosso país chega às raias de um picadeiro
de circo, onde todos os membros deste se esforçam para apresentar o seu número,
sem, contudo, ter a organização esperada nos atos de uma peça bem realizada.
São vozes das mais diversas, fazendo um enorme barulho, mas não encontramos
coerência nelas. Estão destoadas e aleatórias.
O que tenho percebido claramente é que há algumas coisas bem pontuais e
repetitivas nesse movimento.
Primeiro – a maioria são jovens com
problemas sérios de rejeição a qualquer tipo de autoridade e isso demonstra, na
grande parte dos casos, problemas familiares não resolvidos. Revoltosos que
encontraram no movimento uma oportunidade de derramar suas desafeições pessoais
contra “os religiosos”. E sem nenhuma educação social, pois deliberadamente se
expressam com palavras fortes e de baixo calão (talvez não entendam o que eu
disse, então... palavrões).
Segundo – reitero que minha análise é
partir do que leio e escuto nas redes e vídeos postados. Percebo que muitos
destes “defensores” do laicismo não são pensadores de fato, incluindo uns
poucos que se consideram professores acadêmicos. São verdadeiramente
repetidores de teses e conceitos dos quais se apropriaram, sem conhecer os
fundamentos, se científicos ou não. Não basta repetir as expressões comuns do
meio como: “as últimas pesquisas”, ou “pesquisas apontam”, ou “algumas
conclusões sugerem” e etc. Isso não é cientificismo, é falta de raciocínio
pessoal.
Terceiro – a própria ciência não
subestima suas limitações e não se considera superior a outros conhecimentos,
mas o movimento ateísta está repleto de seres elevados com uma sapiência tão
alta que só não deuses porque não acreditam em divindades. Quero dizer com isso
que um tipo de conhecimento que tem apenas dois séculos e meio se arroga como
conhecedor e detentor de toda a “verdade” do universo. Não acho que a sua
“bola” está tão alta assim.
Quarto – quando observamos os maiores
defensores atuais do ateísmo como Dawkins e Harris, por exemplo, o que vemos?
Vendedores de livros, não são considerados rigorosamente cientistas, nem por
ateus de verdade, nem por cientistas de verdade. São homens que se utilizam de
argumentos tão subjetivos como “sorte” e “azar” para explicar suas teses.
Dawkins, para explicar a transformação das espécies em níveis da quantidade de
informação genética, se utiliza das expressões “com milhões de anos e um pouco
de sorte”, e Harris, usa o termo “azar” para explicar os motivos que podem levar
uma pessoa a ser um serial-killer e
não ser culpado por suas ações.
Quinto – somente o Cristianismo é a
principal fonte de ataques desses pseudo-ateus. A desculpa mais comum é que
“não tem graça” atacar outras religiões, também porque o Cristianismo é a base
fundamental das sociedades ocidentais. Mas eu gostaria de ver qualquer desses
ateus em países islâmicos, budistas e hinduístas viverem e expressar sua
“liberdade” nos moldes como o fazem nos países cristãos. Parece que desconhecem
totalmente que a liberdade que hoje possuem foi outorgada pelo Cristianismo,
mesmo com os erros que este cometeu no passado.
Sexto – não vou me entender mais.
Termino com isso: a moral e a ética não são características de quem tem algum
valor ou princípio religioso. Ética e moral são valores do indivíduo,
independente se este crê em Deus ou não. Todo o cidadão do mundo deve viver
eticamente, moralmente e educadamente em relação aos outros e à sociedade onde
habita. Sua cultura deve ser ética e moral e isso é possível sem conotações
religiosas. Mas ao tratarmos destes aspectos, percebemos nitidamente que as
pessoas que possuem religião ou crença religiosa são mais propensas a respeitar
a ética e a moralidade. Mesmo quando religiosos são flagrados em atos imorais e
desonestos, a sociedade religiosa não os apóia e nem aceita com normalidade o
acontecido. Há o perdão, mas antes há a reprovação por parte de todos. Isso não
acontece com freqüência em ambientes não religiosos.
Para mim, o universo de talvez, milhões de ateus do ocidente, está
baseado nestes termos renitentes que descrevi acima. Acredito que os
verdadeiros ateus são aquelas sinceras pessoas que estão em busca de respostas
às suas mais profundas dúvidas acerca da fé e de Deus. A esses o meu sincero
respeito e minhas desculpas por quaisquer palavras que soarem ofensivas. Aos
demais, os vejo como criancinhas dependentes dos pais, mas que foram abandonadas
por eles e adotadas como Rômulo e Remo por uma loba, ou como Tarzan, pela
gorila Kala.
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