GRUPO DE ASTROFÍSICOS QUESTIONA O QUE
SABEMOS SOBRE A FORMAÇÃO E A EVOLUÇÃO DO UNIVERSO
Estrutura e comportamento de galáxias-anãs sugerem que
o atual modelo padrão da Cosmologia é falho
Transcrevemos a seguir a significativa notícia publicada
pelo JC e-mail 4971 de 11 de junho de 2014, de autoria de Cesar Baima (Globo),
mostrando que também na Cosmologia é sentida a necessidade de alteração do
modelo padrão vigente já há muitas décadas! (http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/grupo-de-astrofisicos-questiona-que-sabemos-sobre-formacao-a-evolucao-do-universo-12800569#ixzz34L4mT7KG)
A estrutura e comportamento das
galáxias-anãs que orbitam a Via Láctea e sua vizinha Andrômeda contrariam o
atual modelo padrão da cosmologia, o que levanta dúvidas não só sobre a
compreensão que temos da formação das galáxias, como quanto ao próprio
arcabouço teórico mais aceito pela comunidade científica para explicar a origem
e evolução do Universo. A afirmação é de um grupo de 14 cientistas de seis
países que revisou e diz ter encontrado falhas em três estudos recentes que
tentaram adequar as observações e características conhecidas das galáxias-anãs,
ou galáxias-satélite, do chamado Grupo Local às previsões do modelo.
De acordo com o atual modelo
padrão da Cosmologia, quase 80% da massa do Universo é composta de partículas
de um material invisível, de natureza ainda desconhecida, que só interage com a
matéria "comum", da qual todas as estrelas, planetas e nós mesmos
somos feitos, por meio da gravidade, e por isso recebeu o nome de "matéria
escura". Com isso, a maioria dos cientistas acredita que as galáxias se
formaram e evoluíram ao longo de "teias" de aglomerações de matéria
escura distribuídas pelo Universo devido a pequenas flutuações no Big Bang.
Ainda segundo este modelo padrão,
as galáxias-satélite, como a Pequena e a Grande Nuvem de Magalhães que orbitam
a Via Láctea, devem se formar dentro de pequenos acúmulos de matéria escura
distribuídos de forma aleatória em torno das galáxias-mães, movendo-se também
de forma aleatória em torno delas.
“Mas o que os astrônomos veem
é bem diferente”, diz
Marcel Pawlowski, pesquisador do Departamento de Astronomia da Universidade
Case Western Reserve, nos EUA, e principal autor de artigo com a crítica,
aceito para publicação na próxima edição do periódico "Monthly Notices of
the Royal Astronomical Society". “O que vemos é que estas
galáxias-satélite estão em um mesmo disco e movendo-se na mesma direção dentro
dele, como os planetas de nosso Sistema Solar se movem em torno do Sol na mesma
direção ao longo de um fino plano. Isso não é previsto e pode ser um real
problema” (para o modelo padrão).
Na sua análise dos estudos
recentes, a equipe internacional de astrofísicos tentou replicar os resultados
apresentados usando os mesmos dados em simulações cosmológicas em computador.
Segundo os cientistas, em apenas uma das milhares de simulações feitas a
configuração da Via Láctea com suas galáxias-satélite foi similar à que é
observada pelos astrônomos. “Mais ainda, temos Andrômeda, então a chance de
termos duas galáxias com tão grandes anéis de galáxias-satélite é de menos de
uma em 100 mil”, destaca Pawlowski.
E, para piorar, quando o grupo
corrigiu as falhas que diz ter encontrado nos três estudos, nenhuma das
simulações replicou os resultados encontrados neles, de que é possível a
ocorrência de galáxias-satélite que orbitem suas galáxias-mães todas em um
mesmo plano. Diante disso, os cientistas sugerem uma explicação alternativa e
mais antiga para o surgimento destas galáxias-anãs: uma colisão entre duas
galáxias que tenha arrancado material de ambas e o lançado a grandes
distâncias, como as marés na Terra, resultando em galáxias-satélite feitas com
este material.
Grupo Local
(http://www.astro.princeton.edu/~dns/teachersguide/localgroup.jpg)
“Nossa conclusão tende para um
modelo alternativo muito mais antigo, de que as galáxias-satélite foram
arrancadas de outra galáxia quando ela interagiu com o Grupo Local em um
passado distante”, conta David Merritt, professor de Astrofísica do
Instituto de Tecnologia Rochester, nos EUA, e outro dos autores do artigo
crítico. “Este modelo de „marés‟ pode explicar
naturalmente porque as galáxias-satélite que observamos têm órbitas em um disco
fino”.
Merritt, Pawlowski e os demais
autores da análise fazem parte de um pequeno mas crescente grupo de
astrofísicos que questiona a capacidade do atual modelo padrão da Cosmologia,
adotado pela grande maioria de seus colegas, em explicar e reproduzir o que é
observado no Universo próximo da Terra. E Merritt lembra ainda que é assim que
o progresso científico costuma acontecer, a partir da contestação de teorias e
modelos estabelecidos: “Quando temos claras contradições como as que
apontamos, é preciso se focar nelas. É assim que a ciência avança.”
Humildade científica, na realidade, é o que faz a Ciência
progredir!
Nem tudo o que a “ciência” diz pode ser levado a sério. Ela não é
infalível, mas cheia de contradições e observações imprecisas. Precisamos ter
cuidado ao sair por aí defendendo a ideia de “a ciência nos mostra que”. Isso tem
sempre se mostrado um erro e algo não muito inteligente a se fazer. Amo a
ciência, mas ela é falha, como a maioria de tudo o que procede dos seres
humanos.
Fonte:
Boletim SBC. N.25,
julho/2014, p.16-18.
C. K. Carvalho
Pesquisador autônomo