O modelo-padrão para a
origem do universo está correto?
Afinal, esse modelo está correto ou, o que é mais
importante, ele está correto em prever uma origem do universo? Já descobrimos
que o desvio da luz vermelha vinda de galáxias distantes fornece uma forte
evidência do big bang. Além disso, a melhor explicação para a abundância de
certos elementos no universo, como o hélio, está na tese de que eles foram
formados em um denso e quente bing bang.
Por fim, a melhor explicação para a descoberta, feita em 1965,
de um background cósmico de micro-ondas de radiação é considerá-lo como um
vestígio do big bang. No entanto, o modelo-padrão do big bang precisa ser
modificado de várias maneiras. Ele é baseado na teoria geral da relatividade
formulada por Einstein. Mas essa teoria cai por terra quando o espaço é
reduzido a proporções subatômicas. Precisamos introduzir nesse ponto a física
subatômica e ninguém está bem certo de como isso deve ser feito. Além do mais,
a expansão do universo provavelmente não é constante, como no modelo-padrão.
Ela provavelmente foi acelerando e teve um breve momento de
uma expansão extremamente rápida no passado. Mas nenhum desses ajustes precisa
afetar a previsão fundamental de uma origem absoluta do universo. Na verdade,
os físicos têm proposto diversos modelos alternativos ao longo das últimas
décadas, desde o trabalho apresentado por Friedman e Lemaitre, e provou-se
repetidamente que todos os modelos que não se baseavam em uma origem absoluta
não eram viáveis. Colocado de forma mais positiva, os únicos modelos fora do
padrão que são viáveis são os que envolvem uma origem absoluta do universo.
Essa origem pode ou não ter tido um ponto inicial. Mas mesmo
teorias (como a Stephen Hawking que defende a “não existência de limite”) que
não têm um ponto como origem, ainda assim têm um passado finito. Segundo essas
teorias, o universo não existiu desde sempre, mas veio a existir, ainda que
isso não tenha acontecido num ponto precisamente definido. Em certo sentido, a
história da cosmologia do século XX pode ser vista como uma única tentativa
repetida em série, uma vez depois da outra, de evitar a origem absoluta
prevista pelo modelo-padrão do big bang. Infelizmente, fica a impressão aos
olhos dos leigos que o campo da cosmologia está sempre dando voltas sem nunca
chegar a resultados duradouros. Mas o que os leigos não entendem é que essa
enorme fila de teorias falhas serve apenas para confirmar o que foi previsto
pelo modelo-padrão: que o universo veio a existir.
Essa previsão tem permanecido de pé por mais de oitenta
anos, ao longo de um período de enormes avanços da observação astronômica e dos
trabalhos de criação teórica da astrofísica. Na verdade, em 2003 parece que
chegamos a uma espécie de divisor de águas, quando três proeminentes
cientistas, Arvind Borde, Alan Guth e Alexander Vilenkin, conseguiram provar
que qualquer universo que, em média, tenha estado em expansão ao longo de sua
história não pode ser infinito em seu passado, mas têm obrigatoriamente que ter
um limite de espaço-tempo passado.
O que torna a prova deles tão potente é o fato de que ela se
sustenta independentemente da descrição física do próprio universo de origem.
Por não termos ainda como fornecer uma descrição física do próprio universo de
origem, esse breve momento tem sido terreno fértil para as mais diversas
especulações. Um cientista o comparou com aquelas áreas dos mapas antigos onde
tem uma legenda “Aqui devem ter existido dragões!”, ou seja, é alvo dos mais
diversos tipos de fantasias. Mas o teorema de Borde-Guth-Vilenkin independe de
qualquer descrição física daquele momento inicial. Fica implícito no teorema
deles que mesmo que nosso universo fosse uma parte minúscula de um suposto
multiverso, composto de muitos universos, esse multiverso deve ter tido uma
origem absoluta. Vilenkin é franco acerca das implicações:
“Diz-se que um argumento é algo que convence pessoas
razoáveis e uma prova é algo que convence até mesmo quem não é razoável. Com a
prova agora em seu devido lugar, os cosmólogos não podem mais se esconder atrás
da possibilidade de um universo de passado eterno. Não há como escapar: eles
têm que encarar o problema de uma origem cósmica.”
William Lane Craig
Em Guarda, 2011,
p.99-101.
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