quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O modelo=padrão para a origem do universo está correto?


O modelo-padrão para a origem do universo está correto?

Afinal, esse modelo está correto ou, o que é mais importante, ele está correto em prever uma origem do universo? Já descobrimos que o desvio da luz vermelha vinda de galáxias distantes fornece uma forte evidência do big bang. Além disso, a melhor explicação para a abundância de certos elementos no universo, como o hélio, está na tese de que eles foram formados em um denso e quente bing bang.

Por fim, a melhor explicação para a descoberta, feita em 1965, de um background cósmico de micro-ondas de radiação é considerá-lo como um vestígio do big bang. No entanto, o modelo-padrão do big bang precisa ser modificado de várias maneiras. Ele é baseado na teoria geral da relatividade formulada por Einstein. Mas essa teoria cai por terra quando o espaço é reduzido a proporções subatômicas. Precisamos introduzir nesse ponto a física subatômica e ninguém está bem certo de como isso deve ser feito. Além do mais, a expansão do universo provavelmente não é constante, como no modelo-padrão.

Ela provavelmente foi acelerando e teve um breve momento de uma expansão extremamente rápida no passado. Mas nenhum desses ajustes precisa afetar a previsão fundamental de uma origem absoluta do universo. Na verdade, os físicos têm proposto diversos modelos alternativos ao longo das últimas décadas, desde o trabalho apresentado por Friedman e Lemaitre, e provou-se repetidamente que todos os modelos que não se baseavam em uma origem absoluta não eram viáveis. Colocado de forma mais positiva, os únicos modelos fora do padrão que são viáveis são os que envolvem uma origem absoluta do universo.

Essa origem pode ou não ter tido um ponto inicial. Mas mesmo teorias (como a Stephen Hawking que defende a “não existência de limite”) que não têm um ponto como origem, ainda assim têm um passado finito. Segundo essas teorias, o universo não existiu desde sempre, mas veio a existir, ainda que isso não tenha acontecido num ponto precisamente definido. Em certo sentido, a história da cosmologia do século XX pode ser vista como uma única tentativa repetida em série, uma vez depois da outra, de evitar a origem absoluta prevista pelo modelo-padrão do big bang. Infelizmente, fica a impressão aos olhos dos leigos que o campo da cosmologia está sempre dando voltas sem nunca chegar a resultados duradouros. Mas o que os leigos não entendem é que essa enorme fila de teorias falhas serve apenas para confirmar o que foi previsto pelo modelo-padrão: que o universo veio a existir.

Essa previsão tem permanecido de pé por mais de oitenta anos, ao longo de um período de enormes avanços da observação astronômica e dos trabalhos de criação teórica da astrofísica. Na verdade, em 2003 parece que chegamos a uma espécie de divisor de águas, quando três proeminentes cientistas, Arvind Borde, Alan Guth e Alexander Vilenkin, conseguiram provar que qualquer universo que, em média, tenha estado em expansão ao longo de sua história não pode ser infinito em seu passado, mas têm obrigatoriamente que ter um limite de espaço-tempo passado.

O que torna a prova deles tão potente é o fato de que ela se sustenta independentemente da descrição física do próprio universo de origem. Por não termos ainda como fornecer uma descrição física do próprio universo de origem, esse breve momento tem sido terreno fértil para as mais diversas especulações. Um cientista o comparou com aquelas áreas dos mapas antigos onde tem uma legenda “Aqui devem ter existido dragões!”, ou seja, é alvo dos mais diversos tipos de fantasias. Mas o teorema de Borde-Guth-Vilenkin independe de qualquer descrição física daquele momento inicial. Fica implícito no teorema deles que mesmo que nosso universo fosse uma parte minúscula de um suposto multiverso, composto de muitos universos, esse multiverso deve ter tido uma origem absoluta. Vilenkin é franco acerca das implicações:

“Diz-se que um argumento é algo que convence pessoas razoáveis e uma prova é algo que convence até mesmo quem não é razoável. Com a prova agora em seu devido lugar, os cosmólogos não podem mais se esconder atrás da possibilidade de um universo de passado eterno. Não há como escapar: eles têm que encarar o problema de uma origem cósmica.”

William Lane Craig

Em Guarda, 2011, p.99-101.

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