Mais uma falsificação pré-histórica
Na história das descobertas de fósseis de
animais e seres humanos têm sido detectadas numerosas fraudes, visivelmente
efetuadas para favorecer a visão evolucionista das origens dos seres vivos. A
seguir, transcreve-se a notícia sobre uma fraude recentemente descoberta, na
qual se envolve o comércio ilícito de fósseis no Brasil. A notícia foi
veiculada pelo JC e-mail 4763, de 08 de Julho de 2013 com o título Museu da
Espanha exibe fóssil brasileiro cheio de adulterações e o subtítulo Paleontólogo
italiano analisou peça do CosmoCaixa, de Barcelona, e descobriu um pterossauro
'Frankenstein'.
O fóssil de um
pterossauro brasileiro superconservado é destaque em um dos principais museus
de ciência do mundo, o CosmoCaixa,
em Barcelona. Milhares de pessoas viram o bicho, inclusive muitos
especialistas, mas só um paleontólogo achou que havia algo errado e foi a fundo
no assunto. Acabou descobrindo uma falsificação. A peça era vista por muitos
com um dos exemplares mais preservados do Cretáceo Inferior (entre 100 milhões
e 145 milhões de anos atrás). O trabalho de Fabio Dalla Vecchia, no entanto,
mostrou que se trata de uma espécie de "Frankenstein" paleontológico:
uma composição de vários fósseis diferentes que são montados para darem a
aparência de que são os restos de apenas um indivíduo. E mais: apesar de ser
uma composição de vários animais diferentes, os cientistas não conseguiram
provar que nenhum deles era, de fato, um Anhanguera
piscator, como diz o museu.
Algumas partes
da peça nem fósseis eram, mas sim pedaços de plástico pintado. "A importância
científica desse exemplar é bem menor do que nós pensávamos no início",
diz Dalla Vecchia. Para descobrir a montagem, o cientista e seus colaboradores
fizeram um verdadeiro trabalho de detetive.
Com a
autorização do museu, o grupo olhou o material com lentes de aumento. Já foi o suficiente
para detectar algumas partes da composição, sobretudo as de plástico. O crânio
e a mandíbula, o mais relevante cientificamente, foram removidos e submetidos a
exames de luz ultravioleta e de tomografia computadorizada. O esqueleto não
podia ser removido. Eles identificaram que 50% do crânio e da mandíbula eram
reconstituídos. Na parte que era verdadeira, houve uma combinação de partes de
vários indivíduos. O cientista diz que devem existir vários casos semelhantes,
já que essas falsificações são relativamente comuns. Uma das mais famosas foi
apresentada pela Sociedade Geográfica Nacional dos EUA em 1999 como o "elo
perdido" da evolução dinossauro-pássaro. Batizado de Archaeoraptorliaoningensis, ele
parecia ter o corpo de um pássaro com um rabo de dinossauro. Algum tempo
depois, os cientistas viram que eram dois animais distintos colocados para parecerem
um só.
O Museu
Nacional do País de Gales foi outro atingido. Após 116 anos exibindo um suposto
fóssil de Icthyosaurus, um
réptil marinho, a instituição descobriu que se tratava de uma combinação de
duas criaturas marinhas, com pedaços feitos de gesso.
Fósseis bem
preservados são mais valiosos. Por isso, há muita gente que tenta dar uma "forcinha"
para a natureza, criando peças que são verdadeiros Frankensteins. O antigo
habitat do pterossauro Anhanguera
piscator, na chapada do Araripe, no Nordeste, concentra uma grande
diversidade de répteis voadores e é famoso pela boa conservação dos fósseis.
Por isso, muito embora a venda de fósseis no Brasil seja proibida, é comum que
pessoas explorem a área clandestinamente, já que eles são facilmente encontrados.
O trabalho de
Della Vecchia foi apresentado no Rio-Ptero,
simpósio internacional de pterossauros no Rio, e provocou reações exaltadas da
plateia. Ironicamente, por motivos distintos. A maioria dos pesquisadores
brasileiros ressaltou que esse é o tipo de coisa que acontece quando se compram
fósseis ilegalmente. Já os estrangeiros ficaram mais preocupados com a falta de
confiabilidade de seus fornecedores regulares. O museu, porém, diz não ter a
intenção de tirar a peça de exposição. Jorge Wagensberg, diretor científico da
Fundação La Caixa, diz que, em
breve, a informação de que se trata de uma composição será inserida na
descrição da peça.
Apesar de a
placa do fóssil no museu não fazer menção ao fato de que se trata de uma composição,
Jorge Wagensberg, diretor científico da Fundação La Caixa, divisão de um banco espanhol que é dona do museu,
disse à Folha que sabia desde o início que se tratava de uma montagem com
vários animais. Segundo Wagensberg, ele comprou o fóssil pessoalmente em 1998,
em Denver, nos EUA. Ele diz ter sido acompanhado por dois especialistas.
"Só pelo preço eu já sabia que não era original". Paleontólogos
ouvidos pela reportagem, no entanto, disseram que duvidam de que o museu
soubesse do "Frankenstein" desde o início. "Você queria o quê?
Que eles reconhecessem que foram enganados?", perguntou, rindo, um deles. Questionado
pela reportagem sobre o fato de não haver qualquer menção no museu sobre o
fóssil ser uma composição, considerando que ele diz que isso era um fato
conhecido, ele disse: "A área para descrição de cada exemplar é uma placa
muito pequenininha. Se fôssemos detalhar tudo, não caberia". Ele diz, no
entanto, que vai colocar um pequeno aviso.
Segundo
Wagensberg, as composições são um recurso que pode ser usado sem prejuízo
quando o objetivo é explicar ao público alguns aspectos mais gerais, como a
aparência de um fóssil de perto. Questionado se considerava correto comprar
fósseis de países em que esse comércio é considerado ilegal, o diretor disse
que só poderia responder sobre os aspectos científicos.
Giuliana Miranda / Folha de S.Paulo
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/117867-museu-da-espanha-exibe-fossil-brasileiro-cheio-de-adulteracoes.shtml
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