terça-feira, 17 de setembro de 2013

Modernidade e Fé

Em uma entrevista à revista Época, o filósofo britânico A.C. Grayling, ateu confesso, mas moderado, disse que “o mundo seria bem melhor se não acreditássemos em conto de fadas”, referindo-se às religiões. Ele acredita que as religiões fazem mal à sociedade atual, assim como pensam quase todos os ateus ativistas.

Não sei de onde certos ateus tiram essas ideias de “contos de fadas”, pois parece que eles têm a tendência de perceber as crenças religiosas com a mesma mentalidade com a qual vemos filmes e animações hollywoodianas, somadas à literatura infantil. As crenças religiosas estão em um patamar bem diferente deste tipo de produção.

É também certo que em qualquer tipo de crença religiosa do mundo ou num ambiente onde nenhuma crença exista, o ser humano ainda continuaria a manifestar a maldade que vemos diariamente diante de nossos olhos. A religião ou a falta dela são as desculpas usadas por pessoas doentes, oportunistas e malignas para perpetrarem sua confusão e seu ódio pela vida.

Mas longe de desaparecer, os dados mundiais mostram exatamente o contrário acerca das religiões. Apesar de certo avanço do ateísmo no mundo, seu crescimento é pífio, só amenizado por sua exposição midiática. Em outras palavras, o ateísmo só “aparece com força” porque seus militantes fazem “muito barulho” nas redes e mídias populares.

Quando corretamente analisados, os dados que mostram o ateísmo junto à irreligiosidade não deveriam ser vistos assim, pois se tornam incoerentes. A irreligiosidade é um estado em que os indivíduos se consideram sem alguma religião ou sem uma prática religiosa, mas que admitem a crença em algo sobrenatural. Se as pesquisas abaixo forem bem sérias e estatisticamente comprovadas, então o ateísmo corresponde a apenas 3,97% da população mundial.

E ao verificarmos os últimos dados das religiões no mundo, percebemos que serão precisos mais que algumas dezenas de milhares de anos para que a crença religiosa seja realmente extirpada da mente da humanidade, isso se supondo que uma contínua e incrível onda de incredulidade se abatesse em cada canto do planeta.

De acordo com a pesquisa realizada pela Pew Research Center e divulgada na Pew Research Forum on Religion & Public Life (Global Religion Landscape / 2012), a maioria de aderentes religiosos e espirituais considerando a população mundial são:
31,5% cristianismo (aprox. 2,21 bilhões de adeptos)
23,2% islã (aprox. 1,63 bilhão de adeptos)
16,2% irreligiosidade (aprox. 1,14 bilhão de adeptos)
15,0% hinduísmo (aprox. 1,05 bilhão de adeptos)
7,1% budismo (aprox. 0,50 bilhão de adeptos)
6,7% Religiões populares, incluindo religião tradicional chinesa e outras religiões, inclusive, mas não limitada a religiões tradicionais africanas e americanas nativas, e religiões aborígenes australianas aprox. 0,47% bilhão de adeptos)

De acordo com outra pesquisa realizada em 2005 pela Encyclopædia Britannica, a maioria de aderentes religiosos e espirituais considerando a população mundial são:
33,06% cristianismo
21,00% islã
13,33% hinduísmo
6,27% religião tradicional chinesa
5,87% budismo
A irreligiosidade e o ateísmo respondem por 14,27% e 3,97% da população mundial, seguidos pelas religiões étnicas indígenas. O ateísmo declarado no Brasil no último Censo do IBGE não passou de pouco mais de 615 mil pessoas. Isso dá em média 0,3% da população total do país.

O ateísmo não ultrapassa muito a casa dos 270 milhões de declarantes em relação aos atuais 7 bilhões de pessoas do mundo mesmo com países com índices de ateísmo maiores que no Brasil. Em números reais e em estimativas concretas, o ateísmo (não a irreligiosidade) está muito longe de provocar a “destruição” da religião no mundo.

Carlos Carvalho

Fontes:

Novo Mapa das Religiões (PDF). Disponível em:
http://www.cps.fgv.br/cps/bd/rel3/REN_texto_FGV_CPS_Neri.pdf.
Principais grupos Religiosos. Disponível em:
O Ateísmo “Paz e Amor”. Revista Época. Edição 798. 9 de setembro de 2013. p.58.
Censo 2010. IBGE. Pdf. Disponível em:
ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/tab1_4.pdf


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