O Mito dos mitos
J.R.R. Tolkien
e Hugo Dyson compartilhavam juntamente com C.S. Lewis a reverência pelo mito,
pelo romance e pelos contos de fadas. Em certa e decisiva caminhada noturna,
conversaram com Lewis e lhe mostraram que a mitologia revela sua própria
espécie de verdade e o cristianismo é mitologia verdadeira. Lewis insistia que
os mitos não passavam de “mentiras proferidas por meio da prata”, mas eles
responderam que o mito era bem mais explicado como “um vislumbre real, embora
desfocado, da verdade divina incidindo sobre a imaginação humana”.
Para eles, a
encarnação de Cristo era o ponto principal em que o mito se tornava História. A
vida, a morte e a ressurreição de Cristo não só concretizavam o Antigo
Testamento, mas também corporificavam – literalmente – motivos centrais
encontrados em todas as mitologias do mundo. A visão que Tolkien e Dyson tinham
do mito proporcionou a Lewis uma forma de justificar seu eterno amor pela
mitologia e de cruzar o limiar da casa da fé cristã. Isso foi decisivo em sua
conversão.
Os mitos
gregos, as sagas nórdicas e as lendas irlandesas que ele tanto amava já não
eram simples tolices escapistas indignas de um ser pensante. Tornavam-se
repositórios de verdades ultrarracionais. Proporcionavam percepções,
sabidamente parciais e distorcidas, da realidade fora do alcance da indagação
lógica. No cristianismo, o verdadeiro mito para o qual todos os outros
apontavam, Lewis encontrou uma visão de mundo que ele podia defender como sendo
boa e real. O cristianismo passaria a ser, dali por diante, a fonte de todos os
mitos e histórias de encantamentos, a chave de todas as mitologias, o mito que
desabrocha em história.
Para Lewis, a
imaginação passou a ser “o órgão do significado” e o intelecto “o órgão da
verdade”. O primeiro gera imagens, metáforas e mitos por meio dos quais nós
entendemos o mundo; o segundo pesa, peneira e analisa, discernindo quais
produtos da imaginação correspondem mais perto da verdade.
Extraído de:
Downing, David. C.S.Lewis: o mais relutante dos convertidos.
David Downing; trad. Almiro Pisetta e Fernando Dantas – São Paulo: Editora
Vida, 2006. p. 156 ss.
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