Os Juízes de Israel
Historicamente este período se estende por cerca de 350 anos após a morte
de Josué (1398-1043 a .C.)
e descreve um tempo de apostasia contínua do povo e repetidos processos de
opressão, arrependimento temporário e livramento por um libertador. Isso é
cíclico no livro de Juízes. 13 libertadores ou “salvadores” são mencionados
ali, de Otniel até Sansão.
Ao olhar de forma geral, cinco deles se destacam: Otniel, Débora, Gideão,
Jefté e Sansão. Quero me ater agora ao caso de Otniel e suas particularidades
descritas no capítulo 3. O texto inicia dando uma explicação do porque que
Israel está sofrendo ainda nas questões do seu estabelecimento na terra da
promessa: eles não cumpriram as ordens do Senhor de destruir as nações que ali
habitavam e por isso, elas servem como pedra de tropeço para a nação de
diversas formas, ora por causa das guerras, ora por causa da idolatria.
Em linhas gerais aponto quatro princípios espirituais que não apenas
permeiam o livro dos Juízes, mas que também podem servir de norteamento para
nossas vidas no sentido de compreender como Deus vê e age de acordo com nossas
atitudes.
Primeiro – Podemos alterar os planos e propósitos de Deus por um tempo.
O que quero dizer com isso? Deus havia determinado que as nações de Canaã
fossem eliminadas por Israel à medida que iam entrando e possuindo a terra, mas
isto não ocorreu. O povo, por várias razões, não obedeceu e deixou lá aquelas
nações, e o pior, até fizeram alianças com as mesmas.
Por isto digo que podemos, por causa de nosso livre arbítrio, alterar ou
atrasar os propósitos do Senhor em nossa vida, mesmo que seja por um curto
período de tempo. Óbvio que o próprio Deus sabe disso e espera por um momento
oportuno para fazer com que seus planos venham a cabo. Lembre-se de Jonas e
verá como isso é real.
Segundo – Deus nunca é pego de surpresa e adapta as circunstâncias aos
seus planos.
Quando o povo não cumpriu o ordenado, então Deus utilizou as
circunstâncias a seu favor. O capítulo 3 inicia dizendo que as nações que
ficaram serviriam agora aos propósitos do Senhor, para ensinar a guerra aos que
não a conheciam e para pôr Israel à prova. A prova era para que eles mesmos
vissem se obedeceriam ou não a Deus, porque Deus sabia quem eles eram e como se
comportavam.
Todas as vezes que insistimos em ir por um caminho não proposto por Deus
em sua palavra para nós, Ele não nos mata e nos destrói, ao contrário, Ele
permite e deixa a história continuar seguindo o seu curso. Lá adiante, Ele toma
as rédeas novamente e utiliza as próprias circunstâncias que criamos com nossa
desobediência a favor de Seus objetivos. Esse é pior trajeto que fazemos, mais
longo, mais cansativo e mais custoso, todavia o Senhor jamais deixará de
cumprir seus planos na História e em nossas vidas por causa de nós.
Terceiro – nossas alianças na vida determinam nossas atitudes.
Israel cometeu dois grandes erros: casaram seus filhos e filhas com os
povos que ficaram e idolatraram seus deuses. Sobre a idolatria não é necessário
dizer muito aqui, pois sabemos os malefícios que ela traz em uma nação que
rejeita a Deus e seu Cristo como Senhor. Mesmo que seja difícil para algumas
pessoas entenderem ou aceitarem, a idolatria gera pobreza, maldiçoes e opressão
nacional. Mas sobre os casamentos tenho algo a mais para dizer.
A maioria de nós, incluindo os cristãos, não se atém à seriedade do que é
o casamento. Paulo exorta a realizarmos casamentos no Senhor (1 Coríntios 7) e
não percebemos uma realidade espiritual nele: quando casamos, fazemos aliança
com a outra família e com seus deuses. O que quero dizer com isso? As nossas alianças determinam nossa
adoração. Quando casamos com pessoas que não servem a Deus e a Jesus como
nós, sempre cederemos aos desejos do outro e o lado de Deus sempre sai perdendo
por causa das concessões que fazemos.
Não que Deus seja fraco ou coisa parecida, mas que nós somos tentados a
nunca nos posicionar como deveríamos como servos(as) de Deus no casamento. Se
as pessoas já vieram para o reino de Deus desta forma (casaram no mundo e um
apenas se converteu) tudo bem, mas se escolheram se casar com pessoas
não-cristãs depois de pertencerem a Cristo, a coisa muda de figura.
Apenas observe o texto. No livro inteiro de Juízes é assim. Com Salomão
foi assim (1 Reis 11), porque que conosco haveria de ser diferente. Somos
melhores? Não acho! Por isso o casamento é levado a sério nas Escrituras,
porque não é coisa de “se não der certo separa e casa de novo”, não é coisa de “morar
junto pra ver se dá certo, depois casar”. Casamento é uma aliança, e com ela,
vem toda a bagagem espiritual da outra família sobre nova que está sendo
gerada.
Alguns podem dizer: “Eu não me casei com a família dele ou dela, com seus
pais ou com seus irmãos”, mas isso não altera nada no mundo espiritual. De fato
você se casou restritamente e fisicamente apenas com a pessoa amada, mas
espiritualmente e geneticamente, tanto no seu casamento ou nos seus filhos,
haverá heranças que ultrapassarão os limites de suas palavras. Dê uma olhadinha
em sua família e talvez em você mesmo(a) e verá que a realidade é outra. Por
isso o casamento é tratado com o devido respeito e seriedade na Bíblia.
Quarto – nossas características pessoais são determinantes para as nossas
conquistas na vida.
Otniel foi desde o nascimento preparado para o seu momento na História.
Porque falo isto? De cara, o seu nome. Livremente o seu nome é traduzido como
“leão de Deus”, isto significa que desde criança quando a mãe ou as pessoas
chamavam o seu nome, estavam chamando-o de leão, imprimindo nele
características poderosas. Leão de Deus dito milhares de vezes a uma criança ou
a um jovem, pode alterar definitivamente sua personalidade e seu interior.
Também esse cidadão era sobrinho de Calebe. Ele ouvira as façanhas de seu
tio legítimo, seu próprio sangue corria em suas veias. Calebe foi um
conquistador até depois dos oitenta anos de idade; lutou com filhos dos
gigantes e destruiu cidades muradas, portanto, estas histórias permeavam a
mente de Otniel. Ele estava pronto para o Espírito de Deus vir sobre ele e
fazê-lo o herói do povo na hora certa.
Não somos diferentes. As nossas características pessoais nos levarão à
vitória ou a constantes derrotas na nossa existência. Mas tenha ânimo, essas
características não precisam vir com o nascimento. Podem ser implantadas em nós
por um programa de estímulos constantes, boa leitura, boas influências,
excelentes amizades, pais com visão de futuro, e, se tudo isso faltar por
qualquer motivo, ainda contamos com Deus e seu Espírito para colocar em nós seu
poder e capacidade a fim vencermos como Ele fez e faz até hoje com quem nele
crê.
Estes são os princípios espirituais
que encontrei na leitura do texto e do livro dos Juízes de Israel. Certamente
existem muitos outros; só quero deixar esses como reflexão inicial e estímulo
para que você encontre mais nas suas leituras pessoais.
Bp. Carlos
Carvalho
Teólogo,
Escritor e Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica Internacional
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