Dízimo de Ontem – Dízimo de Hoje
Março de 2013
“Nenhum servo pode servir
a dois senhores: ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de aderir a um e
desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.”
(Lucas 16:13)
Impressiona-me a rapidez com que pseudocristãos se utilizam de um dado
cultural para dar uma falsa resposta a uma demanda moderna. Explico isso
melhor: quando querem, por exemplo, se referir aos dízimos e ofertas, logo
fazem conexão ao dado cultural, dizendo que “o dízimo era de alimentos” ou “não
era em dinheiro”, contudo, estão fazendo uma conexão anacrônica (fora do
tempo), pois estamos de nossa época usando a palavra “dinheiro” e esta, para
nós, tem um significado bem restrito, senão único.
Quero ainda apresentar alguns textos no Novo Testamento[1]
que auxiliarão a balizar meus argumentos. Vou usar apenas os Evangelhos
sinóticos como referência, esperando que haja por parte dos leitores a crença
que estes escritos são cristãos de fato e correspondem às falas de Jesus (peço
também desculpas aos incrédulos que ainda buscam o “Jesus histórico, pois já o
encontrei nas páginas do NT). Vou usar o livro de Marcos porque muitos eruditos
consideram o primeiro dos Evangelhos a ser escrito.
- Em Marcos 10.17-31, aparece o encontro de Jesus com o jovem rico. Ele queria ser salvo e o Senhor lhe disse que para isso deveria VENDER tudo o que tinha e dar aos pobres, o rapaz saiu dali triste porque era muito rico. Daí temos em seguida o ensino de Jesus sobre o perigo de por nossa confiança nas riquezas. Essas “riquezas” não eram apenas os alimentos colhidos, eram as propriedades, os muitos servos, os animais e as casas, além do dinheiro em moedas de ouro, prata e de cobre advindas das vendas dos produtos.
- No capítulo 11, nos versículos 15-18, ele expulsa os que negociavam no pátio do templo, repreendendo os vendedores e compradores que ali não deveria ser realizado aqueles negócios. Por quê? Porque na Lei a orientação era que os homens trouxessem as ofertas de suas próprias casas e rebanhos e não que comprassem dos cambistas que se aproveitavam do “jeitinho” que o povo deu para não ofertar o que era seu próprio.
- No capítulo 12, versos 13-17, Jesus discorre sobre o dízimo do templo e o tributo a César quando questionado sobre a obrigatoriedade do ato. Se você usa o dinheiro que pertence a César, ele pode cobrar o imposto sobre isso, mas não significa que o que pertence a Deus (no caso o dízimo do Templo) não deva ser dado.
- E ainda no capítulo 12, vem a poderosa narrativa da oferta da viúva. Nos versículos 41-44, Jesus derruba de vez essa história de que não há dinheiro envolvido na nossa relação de obediência a Deus. Quem lê, vê os termos usados por Jesus: Gazofilácio (receptáculos em forma de trombeta), grandes quantias (isso não é alimentos ou vegetais, certo?), duas pequenas moedas (um quadrante=1/64 de um denário) e todo o seu sustento (ou seja, todo o dinheiro que possuía naquele momento). É óbvio que aquela senhora deu mais do que todos, pois na proporção, ela deu tudo o que tinha (não apenas o dízimo) e os outros, do que lhes sobrava. Mas era dinheiro.
Tenha paciência e vá comigo até o final de minha argumentação. Não vou
usar aqui os textos de Mateus e Lucas, mas se você é um cristão sincero e não
um pseudocrístão faça você mesmo uma busca nos textos dos Evangelhos onde
aparecem as palavras ofertas, dízimo, dinheiro, riquezas, bens e tire suas
próprias conclusões. Você pode se surpreender com o ensino do Senhor sobre
essas coisas. Quero concluir com três pontos.
- Não se pode tomar enganosamente de um contexto certas palavras, sem levar em consideração o seu significado para o próprio meio de onde ela foi tirada. Isto significa que naquele contexto específico havia vários tipos de ofertas e dízimos para as diversas maneiras de se relacionar com Deus. Alguém disse que o dízimo era a cada três anos. Esse era o dízimo dos dízimos para os que plantavam, mas havia ofertas de animais também, e, além disso, essa informação é parcial, pois todo israelita era obrigado a comparecer no mínimo três vezes ao ano nas festas obrigatórias e jamais sem ofertas ao Senhor (Êxodo 34.18-28). Também é claro que era a tribo de Levi a responsável por receber e administrar todas as ofertas e não poderia ser diferente. Em qualquer nação, casa ou empresa há os responsáveis pelas finanças, porque no reino de Deus ou na Igreja seria diferente? Imagino que você não entregaria suas ofertas e dízimos a qualquer um em qualquer lugar, faria isso?
- É preciso acabar com essa falácia de que Jesus não falou sobre o dízimo, oferta ou sobre dinheiro. Existem três ensinos do Senhor que geram ódio em uns e rejeição em outros: o ensino sobre nossa relação com o dinheiro, a existência e atuação dos demônios e a realidade do inferno. É certo que uma multidão de pessoas, incluindo pseudocristãos, gostariam que esses assuntos nunca tivessem sido abordados por Jesus, mas para a sua tristeza e decepção, Jesus falou e muito!
- Você planta? É agricultor? É da terra que retira o seu sustento? Então dê o dízimo da sua colheita, pois nos dias atuais há muitas pessoas que não têm o que comer e a igreja sabe como ajudá-las. A igreja que pastoreio todas as quartas distribui alimentos e hortifruti para famílias cadastradas de um bairro próximo ao nosso, e elas não fazem parte de nossa comunidade de fé. Quando fui evangelista da Igreja Batista Missionária de Jacobina – BA (no início dos anos 90) em uma cidade distante da sede, ali já recebemos dízimos de colheita e foram vendidos e destinados para a própria igreja, pois lá não havia necessitado de comida para distribuir os alimentos.
Contudo, se você trabalha e negocia por dinheiro nos modelos atuais,
porque não deveria dar seus dízimos e ofertas em dinheiro atuais? Como o texto
de Lucas nos afirma na apresentação, nenhum de nós pode colocar o dinheiro no
lugar de Deus, nem os pastores e líderes, nem os cristãos membros das igrejas.
Todos devem amar a Deus e obedecer aos seus mandamentos, e não podemos escolher
só os que gostamos.
Eis aqui um desafio pessoal: mostre-me um único texto em toda a Bíblia
onde aparece essa afirmação divina: “Nunca mais me tragam seus dízimos e
ofertas, pois eu não os receberei”. De preferência no Novo Testamento ou nos
Evangelhos, mas serve em outro lugar. Se existir esse texto, me convenço que os
pseudocristãos são cristãos de fato e maravilhosos defensores e apologetas da
fé em Cristo.
O Cristianismo não é para covardes e nem para pseudocristãos!
Carlos Kleber Carvalho
Pr. Sênior e
fundador da Comunidade Batista Bíblica Internacional
Fundador e
Presidente da ONG ABAN-Brasil
e-mail: carlos-kleber@hotmail.com
[1] Não me
utilizei de nenhum comentário, dicionários ou livros teológicos para esse
argumento, apenas consultei os textos bíblicos da Almeida Revista e Atualizada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário