quinta-feira, 19 de dezembro de 2013


Deus e o mal – uma outra história

É sabido que a presença do mal no mundo ocupa lugar de destaque nas questões da existência de Deus ou de sua negação. Isso já é lugar comum e assunto chato do ponto de vista da redundância de seu ciclo. Também sabemos que os ateístas e alguns evolucionistas põem esse argumento como o mote central de suas argumentações contra Deus ou a fé.

Asseverações como: “se Deus existe e é bom, como pode o mal existir”, e todas as outras frases dessa linha de pensamento, ou “Deus criou o mundo, criou o homem, portanto, Deus criou o mal e é mal por causa disso”, e todo o blá, blá, blá que vem após isso. Gostaria de me ater a este segundo ponto de discussão, embora não poderei ser tão longo em meus argumentos.

Se “Deus criou o mundo, criou o homem, o homem sendo mal, não pode ser culpado de seus atos porque Deus criou mal”, pode parecer alguma coisa racional, mas não é eficiente no resultado. Vamos partir do princípio condutor das declarações: a concepção judaico-cristã da vida e do mundo. Nela, de fato, Deus criou o mundo, criou o homem, mas o homem se tornou mal pelas escolhas que fez.

Isso, no máximo, significa (para não ser acusado de fundamentalista) que Deus é o autor secundário do mal por ter criado o homem e não o causador do mal no próprio homem. Isto nos leva à outra afirmação, a que Deus é responsável em segundo plano pelas ações más dos homens, ao menos em segunda instância, novamente por causa da criação. Mas isso não resolve o problema total.

Se somente Deus fosse o “culpado” pelo mal no mundo, os que cometem os assassinatos, os estupros, os roubos, a corrupção, as guerras, todas as formas de violências, os abusos infantis, o racismo, os crimes religiosos, os enganos, as trapaças, as mentiras e a lista é quase interminável, jamais seriam responsabilizados pelos seus crimes e erros. No máximo teríamos uma resposta evolutiva como a da seleção natural, que impõe essa “naturalidade” criminosa e pecaminosa no homem.

Todavia, o fato mais claro em qualquer sociedade humana, antiga ou nova, é que os homens são responsáveis pelos seus erros e crimes, não imputando a qualquer divindade a culpa dos mesmos. Não se aceita em tribunal a defesa de que “uma voz”, ou “um espírito”, ou “um deus” me disse para cometer tais atos. Este indivíduo será considerado doente mental, porém cumprirá a sentença dos crimes em local adequado para pessoas mentalmente afetadas.

Outra coisa deixada de lado na matemática filosófica ateísta nos argumentos iniciais é o caso do livre arbítrio. Alguns pensadores fazem um esforço hercúleo para eliminar da equação do mal o livre arbítrio ou simplesmente o poder de decisão pessoal dos seres humanos. Se o livre arbítrio está fora da equação, mais uma vez voltamos à seleção natural que por si só criou em nós as induções imperceptíveis de nossas escolhas no longo processo evolutivo. Mais uma maneira de simplificar o problema, sem dar qualquer resultado.

Creio pessoalmente que Deus assumiu a parte da culpa pelo mal que o livre arbítrio causou na humanidade (assevero que isso é algo pessoal). Ele fez isso de algumas maneiras na História. No início procurou se relacionar com os homens fora de uma base moral elevada (vemos isso por todo o livro do Gênesis), depois gerou a Lei para o povo hebreu, posteriormente enviou os profetas para corrigirem o caminho dos desviantes e, por fim, enviou seu Filho para morrer em lugar de todos os que cressem nele a fim de resgatar o homem ao seu estado original a ponto de o mal não mais afetar as suas decisões.

Deus fez a sua parte na questão do mal e assumiu o seu nível de responsabilidade nisso, mas e o homem? O que vemos o ser humano fazer até hoje é apenas reclamar de Deus, culpá-lo pelos seus próprios erros e ainda por cima, declarar que Ele não existe por causa do mal que prolifera no mundo. O homem faz até hoje o que Adão e Eva fizeram quando foram flagrados no Éden: culpar o outro, que ao final, é também culpa de Deus. “Deus nos criou, nos colocou no jardim, permitiu a tentação e nós caímos. De quem é a culpa? Em última instância, Dele!”

Essa é a mais antiga desculpa que gente irresponsável dá quando confrontada com seus erros e crimes: “Não é culpa minha!”. Mas há uma triste notícia para os culpados: o mal é culpa do homem. Deus já cumpriu sua parte na equação, resta somente o homem cumprir a dele e deixar de ser inconsequente assumindo os próprios erros e crimes, deixando de culpar a Deus, sua existência ou não ou a seleção natural.

Carlos Carvalho


terça-feira, 3 de dezembro de 2013


A Verdade pode sobreviver numa sociedade pós-moderna?

Resumo & Resenha

Este é o título do primeiro capítulo do livro de John MacArthur “A Guerra pela Verdade”. O intuito é fazer uma análise de como o conceito e a busca pela verdade através dos métodos filosóficos, ontológicos e epistemológicos têm fracassado e ao mesmo tempo perdido o devido espaço nas mentes da atualidade. Algumas considerações deste capítulo são tão sérias e importantes que reproduzo aqui sem a necessidade que quaisquer explicações sejam acrescentadas.

Um dos axiomas mais fundamentais, universais e inegáveis de todo o pensamento humano é a absoluta necessidade da verdade. A verdade, para MacArthur, é a autoexpressão de Deus, e ela, por sua natureza, não pode contradizer-se a si mesma. Por isso, a verdade não pode ser explicada, reconhecida, entendida ou definida sem que Deus seja a sua fonte. A verdade e o conhecimento, por si mesmos, simplesmente não possuem uma relevância coerente à parte de uma origem fixa, ou seja, Deus.

A mais valiosa lição que a humanidade deveria ter aprendido da filosofia é que é impossível que a verdade seja compreensível sem que haja um reconhecimento de Deus como o ponto de partida.

MacArthur explicita que o alvo da filosofia humana costumava ser a verdade sem Deus, porém, as filosofias contemporâneas estão abertas à noção de Deus sem a necessidade da verdade. Essa é a “espiritualidade” pessoal, na qual todos têm a liberdade de criar seu próprio deus. Esses deuses pessoais não representam ameaça alguma ao egoísmo pecaminoso, porque, de qualquer forma, eles se adaptam às preferências pessoais de todo pecador e não impõem qualquer exigência a ninguém.

Na sua visão e análise, a modernidade era caracterizada pela crença de que a verdade existe e que o método científico é a única maneira confiável de determinar essa verdade, mas na pós-modernidade, há uma tendência de repudiar a possibilidade de qualquer conhecimento seguro e sólido acerca da verdade.

O pós-modernismo sugere que, se a verdade objetiva existe, ela não pode ser conhecida de modo objetivo ou com algum grau de certeza, porque a subjetividade da mente humana torna impossível o conhecimento da verdade objetiva. Cada pessoa tem direito à sua própria verdade.

Por essa razão, afirma MacArthur, o único objetivo e atividade singular do pós-modernismo é a desconstrução sistemática de qualquer reivindicação da verdade, usando as ferramentas do relativismo, do subjetivismo, da negação do dogma, a dissecação e o aniquilamento de toda definição clara, o questionamento implacável de todo axioma, da exaltação indevida do mistério e do paradoxo, do exagero deliberado de toda ambiguidade e, acima de tudo, o cultivo da incerteza a respeito de tudo.
          
       A verdade é como uma montanha milenar: absoluta, indestrutível, imaculada, inabalável e perene, sempre presente, visível, incontestável, pura e poderosamente concreta. Ao visualizá-la de longe, ficamos assombrados com sua grandeza e beleza, mas ao nos aproximar e penetrar em seu interior (quando possível) descobrimos que há muito mais a se conhecer.


© Carlos Carvalho
27 de novembro de 2013

Referência:


MacArthur, John. A Guerra pela Verdade / John MacArthur. São José dos Campos – SP: Editora Fiel. Reimpressão revisada, 2010. p. 57ss.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013


O Mito dos mitos


J.R.R. Tolkien e Hugo Dyson compartilhavam juntamente com C.S. Lewis a reverência pelo mito, pelo romance e pelos contos de fadas. Em certa e decisiva caminhada noturna, conversaram com Lewis e lhe mostraram que a mitologia revela sua própria espécie de verdade e o cristianismo é mitologia verdadeira. Lewis insistia que os mitos não passavam de “mentiras proferidas por meio da prata”, mas eles responderam que o mito era bem mais explicado como “um vislumbre real, embora desfocado, da verdade divina incidindo sobre a imaginação humana”.

Para eles, a encarnação de Cristo era o ponto principal em que o mito se tornava História. A vida, a morte e a ressurreição de Cristo não só concretizavam o Antigo Testamento, mas também corporificavam – literalmente – motivos centrais encontrados em todas as mitologias do mundo. A visão que Tolkien e Dyson tinham do mito proporcionou a Lewis uma forma de justificar seu eterno amor pela mitologia e de cruzar o limiar da casa da fé cristã. Isso foi decisivo em sua conversão.

Os mitos gregos, as sagas nórdicas e as lendas irlandesas que ele tanto amava já não eram simples tolices escapistas indignas de um ser pensante. Tornavam-se repositórios de verdades ultrarracionais. Proporcionavam percepções, sabidamente parciais e distorcidas, da realidade fora do alcance da indagação lógica. No cristianismo, o verdadeiro mito para o qual todos os outros apontavam, Lewis encontrou uma visão de mundo que ele podia defender como sendo boa e real. O cristianismo passaria a ser, dali por diante, a fonte de todos os mitos e histórias de encantamentos, a chave de todas as mitologias, o mito que desabrocha em história.

Para Lewis, a imaginação passou a ser “o órgão do significado” e o intelecto “o órgão da verdade”. O primeiro gera imagens, metáforas e mitos por meio dos quais nós entendemos o mundo; o segundo pesa, peneira e analisa, discernindo quais produtos da imaginação correspondem mais perto da verdade.


Extraído de:

Downing, David. C.S.Lewis: o mais relutante dos convertidos. David Downing; trad. Almiro Pisetta e Fernando Dantas – São Paulo: Editora Vida, 2006. p. 156 ss.


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O ERRO DE DARWIN
(Extraído) 

Como “Artigo do Mês” apresentamos a seguir o texto de autoria de Enézio E. de Almeida Filho publicado em seu blog http://www.pos-darwinista.blogspot.com.br/2010/08/marcelo-gleiser-e-o-errode-darwin.html.

"Devemos julgar afirmações sobre 'teorias de tudo' com enorme ceticismo; nosso conhecimento é limitado"

Em 1859, com o furor de uma mente devota, o já não tão jovem Charles Robert Darwin, com 50 anos, publica seu segundo livro, "On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favored Races in the Struggle for Life" [A origem das species através da seleção natural ou a preservação das raças favorecidas na luta pela vida].
Nele, o então cientista principiante propõe nada menos do que a solução final para a origem das espécies: o plano totalmente natural e mecanicista através da seleção natural. Segundo Darwin, tudo se deu durante uma leitura desinteressada que fez de Malthus em 1837. Segundo sua autobiografia publicada em 1876, quando lia o princípio malthusiano sobre o crescimento geométrico das populações e o crescimento aritmético dos alimentos, Darwin teve um estalo epistêmico à la Arquimedes:
Se a produção de mais descendentes que podem sobreviver estabelece um ambiente competitivo entre os aparentados, e a variação entre eles produziria alguns indivíduos com maiores chances de sobrevivência, se este princípio malthusiano estivesse correto, isso era sintoma de sua aplicabilidade em uma ordem muito mais profunda.
Eureka! Voilá! Talvez a estrutura biológica seguisse as regras da economia. Fosse esse o caso, a mente humana teria acesso direto aos segredos mais profundos da natureza sem precisar de nenhuma ajuda externa. E a língua em comum entre o homem e a origem das espécies somente seria melhor explicada através da seleção natural ao longo de longas eras.
Após várias tentativas teóricas frustradas, Darwin somente obteve a solução epistêmica que tanto almejava após receber em 1858 o ensaio teórico de Alfred Rusell Wallace muito superior às suas ideias. Na época, alguns naturalistas já falavam em seleção natural e outros mecanismos evolucionistas. Mas a seleção natural era invisível aos olhos europeus vitorianos.
Todavia, Darwin, numa sacada genial, pediu permissão aos leitores para “apresentar um ou dois exemplos imaginários [da ação da seleção natural]”: o lobo e a captura de suas presas [pela astúcia, força e agilidade] e o entrecruzamento de duas flores de plantas distintas através de um líquido/néctar também imaginário, que transmitiriam essas características aos seus descendentes, e assim os mais aptos sobreviveriam devido ao processo de preservação contínua. Portanto, a origem das espécies seria, principalmente, segundo Darwin, decorrente da seleção natural entre outros mecanismos evolutivos!
Darwin foi além, mas precavido. Ele tinha plena consciência de que a sua (e de Alfred Rusell Wallace também) teoria da seleção natural, ilustrada com dois exemplos imaginários, sofreria objeções científicas. Mesmo tendo apenas dois exemplos imaginários, Darwin afirmou que “a seleção natural só pode agir através da preservação acumulação de modificações hereditárias infinitesimalmente pequenas, desde que úteis ao ser modificado”.
Para um homem que acreditava profundamente na natureza, nada mais natural do que uma solução natural. Darwin via seu arranjo como a expressão do sonho dos filósofos gregos antigos de obter uma explicação estritamente naturalista para os mistérios do mundo. Para ele, a teoria da seleção natural [o mais importante entre outros mecanismos evolutivos] era a teoria biológica final para explicar a origem das espécies.
Podemos aprender algo com Darwin. Soubesse ele da existência da complexidade irredutível dos sistemas biológicos, e da informação complexa especificada, como teria reagido? Certamente, seu sonho de uma ordem natural para as coisas vivas dependia do que se sabia na época. Seu erro foi ter dado ao estado do conhecimento empírico do mundo o valor epistêmico para o mero acaso, a fortuita necessidade, e a ação cega da seleção através de longas eras, numa teoria de longo alcance histórico de difícil corroboração no contexto de justificação teórica. Uma Theoria perennis. Uma teoria final.
Para Charles Robert Darwin, era inimaginável que a origem das espécies pudesse se desviar desta estrutura de mero acaso, fortuita necessidade, através da seleção natural. No entanto, sabemos que nosso conhecimento do mundo é limitado, e será sempre. Por isso, devemos julgar declarações sobre teorias de tudo ou teorias finais com enorme ceticismo, inclusive a teoria da evolução através da seleção de Darwin. Afinal de contas, a história da ciência nos ensina que o progresso científico caminha de mãos dadas com nossa capacidade de medir a natureza. Achar que a mente humana pode imaginar a origem das espécies antes de verificá-la empiricamente pode, ocasionalmente, dar certo. Mas, em geral, leva a teorias que existem apenas na imaginação.
Como os exemplos de ação da teoria da seleção natural de Darwin, uma teoria nos seus estertores epistêmicos demandando uma revisão nos seus fundamentos, ou simplesmente descarte, e que outra teoria tome seu lugar: a Síntese Evolutiva Ampliada,  que, pelas montanhas de evidências contrárias, não pode mais ser selecionista à la Darwin.

Este artigo é sintomático do que está sendo urdido atrás dos bastidores, mas  que certamente já tem data marcada para ser lançado em breve ao grande público!

SOCIEDADE CRIACIONISTA BRASILEIRA - BOLETIM MENSAL Nº 15 /2013 – SETEMBRO DE 2013
 e-mail: scb@scb.org.br / site: http://www.scb.org.br


sexta-feira, 25 de outubro de 2013


Pedras do sapato da Cosmologia

Em artigo publicado na revista Ciência e Cultura, o professor associado do Instituto de Física da USP, Raul Abramo, disserta sobre o “estranho universo em que vivemos” e nos mostra o que hoje ainda se constitui alguns dos mistérios de nosso universo, como o seu “lado escuro” (a matéria escura), a sua recente aceleração e a energia escura.
O professor nos revela que em resumo, a matéria e energia do universo, se compõem basicamente por:
4% de matéria normal (átomos, estrelas, planetas e, principalmente gás).
26% de matéria escura (que deve ser algum tipo de partícula elementar ainda desconhecida).
70% de energia escura (componente sobre a qual nada se sabe, a não ser que esta deve ser a causa da recente aceleração da expansão do universo).

Segundo o professor Raul, “ninguém pode estar satisfeito com a situação onde, para explicar os fenômenos do cosmos, precisamos apelar para dois tipos distintos de substâncias invisíveis”. A matéria escura poderá vir a ser detectada em experimentos futuros na física de partículas, pois ela já foi prevista nos modelos em que a matéria escura interage, em pequena medida, com as partículas que se conhece em aceleradores como o Cern (sigla da organização da Europa para as pesquisas nucleares).

Porém, segundo o professor, a energia escura, não desfruta da mesma possibilidade. Para ele, não parece haver a “menor perspectiva de jamais ser detectada diretamente em laboratório, ou mesmo por algum telescópio terrestre” e pode alterar as noções básicas do Modelo Cosmológico Padrão (MCP) que se tem hoje. Se essa é a real situação, como ainda podem alguns nos considerar ignorantes quando falamos de Design e Teísmo?

É certo que o artigo do professor Raul não se destina à defesa do teísmo, do ateísmo ou de qualquer outro ponto de vista fora de seu âmbito científico, nem estou dizendo que ele tem esta ou aquela posição em relação aos assuntos da fé ou da não-fé, apenas considerei interessante suas questões sinceras e moderadas sobre o conhecimento ou a falta dele acerca de nosso universo. Sobre isso dá para se pensar bastante, não?

© Carlos Carvalho

Fonte:
O Estranho Universo em que Vivemos. Raul Abramo. Revista Ciência e Cultura, vol.61, n.4. on line version ISSN 2317-6660. São Paulo, 2009. Disponível em:
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-7252009000400010&script=sci_arttext

Imagem: Aglomerado de galáxias de Coma.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Bíblia & Ciência estrita

Espero não ser mal compreendido com o que escrevo pela comunidade de cristãos que como eu, têm fé sincera em Deus e em sua Palavra. Sou um homem de fé, sou cristão há mais de duas décadas, minha primeira formação é Teologia e, portanto, falo a partir do meio onde vivo e partilho as minhas convicções.

Durante os séculos que chamamos de idade medieval, que certamente se encerrou com o advento da Reforma Protestante, a Igreja Católica detinha o controle das produções científicas e artísticas do mundo que governava. Politicamente e espiritualmente possuía o destino das vidas de milhões de pessoas no mundo de então. Era um poder que poucos desejariam desafiar.

Neste período, mesmo que equivocadamente tentando proteger a fé em Deus (isto por parte de pessoas sinceras que criam de fato nisso, sem mencionar os oportunistas e profanos), essa instituição declarava que as Escrituras era um compêndio não somente de textos revelacionais sobre Deus e seu Cristo, mas também era uma obra de cunho científico, ou seja, adotavam um literalismo bíblico mesmo em questões de ciências.

Ainda hoje esse literalismo bíblico em questões científicas sobrevive e têm adeptos mesmo no meio Protestante e evangélico. Mas a Bíblia não é um livro de assuntos científicos. Mesmo crendo que de fato em suas poucas declarações de ordem científicas ela seja verdadeira, a realidade é que ela se interessa por assuntos como a revelação de Deus, sua relação com o homem e Israel, o conhecimento de Jesus Cristo e a prática da vida piedosa.

Nestes últimos dias tenho lido alguns textos interessantes sobre Calvino e me ative o quanto seus escritos são importantes, mas poucos conhecidos do povo em geral e também dos cristãos atuais. Impressiona-me a sua Teoria da Acomodação, que ele descrevia como um forma de libertar a Bíblia do literalismo da época e para libertar as ciências dando a ela curso livre na busca pela descoberta sobre os detalhes da criação.

Sobre esse aspecto particular apresento algumas porções de textos e frases de Calvino e de outros cientistas que, como ele, tinham uma percepção mais acurada da relação entre a Bíblia e a ciência que nos falta hoje. João Calvino disse:
O ponto principal das Escrituras é trazer-nos a um conhecimento de Jesus Cristo... As Escrituras nos proveem com um espetáculo, através do qual nós podemos ver o mundo como a criação de Deus e sua autoexpressão; elas jamais pretenderam prover-nos com um repositório infalível de informações astronômicas e médicas.

Alister McGrath, comentando a teoria da acomodação de Calvino a resume assim:
Deus, ao se revelar a nós, acomodou-se aos nossos níveis de entendimento e às nossas preferências naturais por meios ilustrativos de compreendê-lo. Deus se revela, não como ele é em si mesmo, mas em formas adaptadas à nossa capacidade humana.

O famoso astrônomo Phillips van Lansbergen (1562-2632), comentando as Escrituras escreveu:
...segundo a situação real, mas segundo as aparências...a Escritura foi-nos outorgada por inspiração de Deus, e deve ser usada para doutrina, exprobração, correção, e para o exercício da probidade, mas não é própria para o ensino da geometria e da astronomia.

Johannes Kepler também escreveu:
As Sagradas Escrituras falam sobre coisas comuns (no ensino daquilo para o qual elas não foram instituídas) a criaturas humanas, numa maneira humana, para que possam ser compreendidas pela humanidade; elas usam o que geralmente é reconhecido pelas pessoas, a fim de fazê-las entender outras coisas, mais elevadas e divinas[1]

O pensamento de Calvino encontrou reflexo até nos escritos de Isaac Newton (1643-1727) e de muitos cientistas cristãos de sua época e posterior. Por isso minha tendência é a de concordar com esses homens que não somente fizeram história com sua vida, estudos e escritos, mas mudaram a própria História da ciência e do mundo Ocidental.

© Carlos Carvalho



[1] Todas essas citações retirei de um excelente artigo de Wilson Porte Jr. no site da revista Teologia Brasileira. No artigo há todas as referências bibliográficas das declarações. Disponível em: http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=350

domingo, 13 de outubro de 2013


Improbabilidade da existência do Universo como o conhecemos

Algumas considerações são extremamente importantes para lançar em nossa mente sérias questões em relação ao modelo científico que tem sido apresentado a nós do universo no qual vivemos.

“Tenho que concordar. O Big Bang grita por uma explicação divina. Obriga à conclusão que a natureza teve um princípio definido. Não consigo ver como a natureza pôde ter-se criado. Apenas uma força sobrenatural, fora do tempo e do espaço, poderia tê-la originado”.[1]

“A existência de um universo como o conhecemos repousa no fio da navalha das improbabilidades.”[2]

“Ao todo, existem quinze constantes físicas cujos valores a atual teoria não consegue predizer. São dadas: simplesmente têm o valor que têm. A lista inclui a velocidade da luz, a potência das forças nucleares forte e fraca, diversos parâmetros associados ao eletromagnetismo e a força da gravidade. A probabilidade de todas essas constantes terem os valores necessários para resultar em um universo estável, capaz de sustentar formas de vida complexas, quase tende ao infinito. E, no entanto, elas apresentam exatamente os parâmetros que observamos. Em resumo, nosso universo é monstruosamente improvável.”[3]

“E claro que a visão de mundo científica não é totalmente suficiente para responder a todas as questões interessantes acerca da origem do universo e não há nada essencialmente em conflito entre a ideia de um Deus criador e o que a ciência revelou. Na verdade, a hipótese de Deus soluciona algumas questões de profundidade mais problemáticas sobre o que veio antes do Big Bang e por que o universo parece tão exatamente acertado para que estejamos aqui.”[4]

Francis S. Collins
A Linguagem de Deus.
(Versão digital. 2007)



[1] A linguagem de Deus. Francis Collins, p. 75
[2] Ibid, p.80
[3] Ibid, p.81
[4] Ibid, p.87

terça-feira, 1 de outubro de 2013


A MORTE DO POSITIVISMO LÓGICO

O positivismo lógico, como alguns devem lembrar, foi a filosofia introduzida por um grupo europeu, chamado de Círculo de Viena, no início da década de 1920, e que A. J. Ayer popularizou nos países de língua inglesa com seu livro Linguagem, verdade e lógica, publicado em 1936.

De acordo com os positivistas lógicos, as únicas afirmações significativas eram aquelas cuja verdade podia ser confirmada através de experiência racional, simplesmente em virtude de sua forma e do significado das palavras usadas. Assim, uma afirmação era considerada significativa se sua verdade ou falsidade pudessem ser comprovadas pela observação empírica — por exemplo, estudo científico.

As afirmações da lógica e da matemática pura eram tautologias, isto é, eram verdadeiras por definição, simples modos de usarem-se símbolos que não expressavam nenhuma verdade a respeito do mundo. Não havia mais nada que pudesse ser descoberto ou discutido coerentemente.

O centro do positivismo lógico era o princípio da comprovação que estabelecia que a significação de uma proposição consiste de sua comprovação. Como resultado, as únicas afirmações significativas eram aquelas usadas na ciência, na lógica ou na matemática. Afirmações de metafísica, religião, estética e ética não tinham significação, literalmente, porque não podiam ser comprovadas por métodos empíricos. Não eram válidas, nem inválidas.

Ayer disse que é tão absurdo ser ateísta quanto teísta, porque a afirmação "Deus existe" simplesmente não tem significado. Como qualquer história da filosofia mostrará o positivismo lógico de fato arruinou-se na década de 1950 por causa de suas inconsistências internas.

O próprio Sir Alfred Ayer, em uma contribuição que fez a uma antologia, declarou: "O positivismo lógico morreu muito tempo atrás. Acho que uma grande parte de Linguagem, verdade e lógica não é verdadeira. Penso que o livro está cheio de erros. Penso que foi um livro importante em seu tempo porque teve um tipo de efeito catártico. Mas, analisando os detalhes, vejo que está cheio de erros que passei os últimos cinquenta anos corrigindo ou tentando corrigir".

Carlos Carvalho

Referência:


Deus existe. Antony Flew. – São Paulo: Ediouro, 2008. p.8 ss.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O conceito científico e sua relação com a fé em Leon Tolstoi

Liev ou Leon Tolstoi (1828-1910), um dos grandes mestres da literatura russa do século XIX, crítico da Igreja Ortodoxa e do Estado, mas um homem de profunda fé cristã e amante das Escrituras bíblicas escreveu “O reino de Deus está em vós”, lançado e traduzido em nosso idioma também pela Editora Rosa dos Ventos em 1994. No quarto capítulo, ele aborda a questão do cristianismo mal compreendido pelos cientistas, deste, retirei alguns pensamentos que reproduzo aqui.

Para Tolstoi, um dos supostos conceitos acerca do cristianismo que impede a compreensão do sentido verdadeiro dele é o conceito científico.
Para ele, a religião não é, como acredita a ciência, um fenômeno que em tempo idos acompanhou o desenvolvimento da humanidade e que não mais se renovou, mas sim um fenômeno próprio da vida humana e ainda hoje absolutamente natural à humanidade como em qualquer outra época.
Ele disse que a essência da religião, portanto da fé, está na faculdade que têm os homens de profetizar e indicar o caminho que deve seguir a humanidade, numa direção diferente da seguida no passado e da qual resulta uma ação absolutamente diferente da humanidade.
Para esse mestre da literatura, existem apenas três conceitos da vida: a vida pessoal ou animal, centrada no próprio homem, a vida social ou pagã, centrada na família, na tribo, na raça ou no Estado, e a vida universal ou divina, que se centra no amor e na adoração do princípio de tudo: Deus.
Tolstoi disse que o entendimento dos doutores acerca dos princípios de Cristo é como um homem que, não tendo qualquer noção do que seja um círculo, afirmasse ser exagero dizer que todos os pontos da circunferência são igualmente distantes do centro.
Para Tolstoi, é impossível julgar uma doutrina sem haver penetrado no conceito do qual ela deriva. E, mais ainda, é impossível julgar uma tese de ordem superior colocando-se num ponto de vista inferior: julgar o alto da torre quando estamos nas fundações.
A posse de um método de investigação, supostamente infalível, constitui o principal obstáculo à compreensão da doutrina cristã por parte dos ateus e dos pretensos doutores, cuja opinião norteia a grande maioria dos incrédulos, crédulos e instruídos. E é dessa suposta interpretação que resultam todos os erros dos doutores sobre a doutrina cristã e, especialmente, dos estranhos mal entendidos, que mais do que tudo, impedem sua compreensão.
Tolstoi assevera que, crer naturalmente que a vida do homem seguirá a direção indicada por Cristo, é como acreditar que um barqueiro, para atravessar um rio veloz, remando quase que diretamente contra a corrente, navegaria naquela direção.
Para ele, baixar o nível de exigência dos mandamentos de Cristo para uma exigência que é possível seu cumprimento sem levar em conta toda a vida da pessoa é destruir o próprio ideal de perfeição. Uma perfeição possível perderia qualquer influência sobre a alma humana. Só o ideal de absoluta e infinita perfeição nos seduz e nos atrai. A doutrina de Cristo tem grande poder exatamente porque requer perfeição absoluta, ou seja, uma identificação total com a vontade de Deus. A vida segundo a doutrina cristã é o caminho para a perfeição divina. O cumprimento dessa doutrina está no movimento do eu em direção a Deus.
Tolstoi argumenta que a definição de amor a Deus e amor à humanidade não podem ser iguais. Para ele, a doutrina do amor à humanidade está baseada no conceito social da vida. Ele disse que o amor pode ser dado ou transferido palpavelmente em relação a si próprio, à família, à tribo, ao Estado e etc., mas o homem que ama a humanidade ama o quê? A humanidade como conceito concreto não existe e não pode existir.
O que é humanidade? Quais são os seus limites? Onde ela termina? Onde começa? São perguntas bem difíceis de responder exatamente e podemos incluir muitas outras questões nisso. Para Tolstoi, a humanidade é uma hipocrisia; não se pode amá-la. Esse amor não pode existir e não tem razão de ser.
A doutrina cristã reconduz o homem à consciência primitiva do seu eu, não de seu eu animal, mas de seu eu divino, da centelha divina, de seu eu filho de Deus, porque o amor cristão resulta unicamente do conceito cristão da vida, conceito segundo o qual o objetivo essencial da vida é amar e servir a Deus.
Ele finaliza dizendo que a opinião errônea dos doutores, que o sobrenatural é a essência do cristianismo, e que sua doutrina é impraticável, é também uma das causas pelas quais os homens de nosso tempo não compreendem o cristianismo. É, portanto, uma questão de mal entendidos, de raciocínios falsos e da perspectiva equivocada do conceito científico.

Carlos Carvalho

O reino de Deus está em vós. Leon Tolstoi. Ed. Rosa dos Ventos. 2ª. ed.: São Paulo – SP, 1994, capítulo IV. Versão digital.


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Modernidade e Fé

Em uma entrevista à revista Época, o filósofo britânico A.C. Grayling, ateu confesso, mas moderado, disse que “o mundo seria bem melhor se não acreditássemos em conto de fadas”, referindo-se às religiões. Ele acredita que as religiões fazem mal à sociedade atual, assim como pensam quase todos os ateus ativistas.

Não sei de onde certos ateus tiram essas ideias de “contos de fadas”, pois parece que eles têm a tendência de perceber as crenças religiosas com a mesma mentalidade com a qual vemos filmes e animações hollywoodianas, somadas à literatura infantil. As crenças religiosas estão em um patamar bem diferente deste tipo de produção.

É também certo que em qualquer tipo de crença religiosa do mundo ou num ambiente onde nenhuma crença exista, o ser humano ainda continuaria a manifestar a maldade que vemos diariamente diante de nossos olhos. A religião ou a falta dela são as desculpas usadas por pessoas doentes, oportunistas e malignas para perpetrarem sua confusão e seu ódio pela vida.

Mas longe de desaparecer, os dados mundiais mostram exatamente o contrário acerca das religiões. Apesar de certo avanço do ateísmo no mundo, seu crescimento é pífio, só amenizado por sua exposição midiática. Em outras palavras, o ateísmo só “aparece com força” porque seus militantes fazem “muito barulho” nas redes e mídias populares.

Quando corretamente analisados, os dados que mostram o ateísmo junto à irreligiosidade não deveriam ser vistos assim, pois se tornam incoerentes. A irreligiosidade é um estado em que os indivíduos se consideram sem alguma religião ou sem uma prática religiosa, mas que admitem a crença em algo sobrenatural. Se as pesquisas abaixo forem bem sérias e estatisticamente comprovadas, então o ateísmo corresponde a apenas 3,97% da população mundial.

E ao verificarmos os últimos dados das religiões no mundo, percebemos que serão precisos mais que algumas dezenas de milhares de anos para que a crença religiosa seja realmente extirpada da mente da humanidade, isso se supondo que uma contínua e incrível onda de incredulidade se abatesse em cada canto do planeta.

De acordo com a pesquisa realizada pela Pew Research Center e divulgada na Pew Research Forum on Religion & Public Life (Global Religion Landscape / 2012), a maioria de aderentes religiosos e espirituais considerando a população mundial são:
31,5% cristianismo (aprox. 2,21 bilhões de adeptos)
23,2% islã (aprox. 1,63 bilhão de adeptos)
16,2% irreligiosidade (aprox. 1,14 bilhão de adeptos)
15,0% hinduísmo (aprox. 1,05 bilhão de adeptos)
7,1% budismo (aprox. 0,50 bilhão de adeptos)
6,7% Religiões populares, incluindo religião tradicional chinesa e outras religiões, inclusive, mas não limitada a religiões tradicionais africanas e americanas nativas, e religiões aborígenes australianas aprox. 0,47% bilhão de adeptos)

De acordo com outra pesquisa realizada em 2005 pela Encyclopædia Britannica, a maioria de aderentes religiosos e espirituais considerando a população mundial são:
33,06% cristianismo
21,00% islã
13,33% hinduísmo
6,27% religião tradicional chinesa
5,87% budismo
A irreligiosidade e o ateísmo respondem por 14,27% e 3,97% da população mundial, seguidos pelas religiões étnicas indígenas. O ateísmo declarado no Brasil no último Censo do IBGE não passou de pouco mais de 615 mil pessoas. Isso dá em média 0,3% da população total do país.

O ateísmo não ultrapassa muito a casa dos 270 milhões de declarantes em relação aos atuais 7 bilhões de pessoas do mundo mesmo com países com índices de ateísmo maiores que no Brasil. Em números reais e em estimativas concretas, o ateísmo (não a irreligiosidade) está muito longe de provocar a “destruição” da religião no mundo.

Carlos Carvalho

Fontes:

Novo Mapa das Religiões (PDF). Disponível em:
http://www.cps.fgv.br/cps/bd/rel3/REN_texto_FGV_CPS_Neri.pdf.
Principais grupos Religiosos. Disponível em:
O Ateísmo “Paz e Amor”. Revista Época. Edição 798. 9 de setembro de 2013. p.58.
Censo 2010. IBGE. Pdf. Disponível em:
ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/tab1_4.pdf


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Mais uma falsificação pré-histórica

Na história das descobertas de fósseis de animais e seres humanos têm sido detectadas numerosas fraudes, visivelmente efetuadas para favorecer a visão evolucionista das origens dos seres vivos. A seguir, transcreve-se a notícia sobre uma fraude recentemente descoberta, na qual se envolve o comércio ilícito de fósseis no Brasil. A notícia foi veiculada pelo JC e-mail 4763, de 08 de Julho de 2013 com o título Museu da Espanha exibe fóssil brasileiro cheio de adulterações e o subtítulo Paleontólogo italiano analisou peça do CosmoCaixa, de Barcelona, e descobriu um pterossauro 'Frankenstein'.

O fóssil de um pterossauro brasileiro superconservado é destaque em um dos principais museus de ciência do mundo, o CosmoCaixa, em Barcelona. Milhares de pessoas viram o bicho, inclusive muitos especialistas, mas só um paleontólogo achou que havia algo errado e foi a fundo no assunto. Acabou descobrindo uma falsificação. A peça era vista por muitos com um dos exemplares mais preservados do Cretáceo Inferior (entre 100 milhões e 145 milhões de anos atrás). O trabalho de Fabio Dalla Vecchia, no entanto, mostrou que se trata de uma espécie de "Frankenstein" paleontológico: uma composição de vários fósseis diferentes que são montados para darem a aparência de que são os restos de apenas um indivíduo. E mais: apesar de ser uma composição de vários animais diferentes, os cientistas não conseguiram provar que nenhum deles era, de fato, um Anhanguera piscator, como diz o museu.

Algumas partes da peça nem fósseis eram, mas sim pedaços de plástico pintado. "A importância científica desse exemplar é bem menor do que nós pensávamos no início", diz Dalla Vecchia. Para descobrir a montagem, o cientista e seus colaboradores fizeram um verdadeiro trabalho de detetive.

Com a autorização do museu, o grupo olhou o material com lentes de aumento. Já foi o suficiente para detectar algumas partes da composição, sobretudo as de plástico. O crânio e a mandíbula, o mais relevante cientificamente, foram removidos e submetidos a exames de luz ultravioleta e de tomografia computadorizada. O esqueleto não podia ser removido. Eles identificaram que 50% do crânio e da mandíbula eram reconstituídos. Na parte que era verdadeira, houve uma combinação de partes de vários indivíduos. O cientista diz que devem existir vários casos semelhantes, já que essas falsificações são relativamente comuns. Uma das mais famosas foi apresentada pela Sociedade Geográfica Nacional dos EUA em 1999 como o "elo perdido" da evolução dinossauro-pássaro. Batizado de Archaeoraptorliaoningensis, ele parecia ter o corpo de um pássaro com um rabo de dinossauro. Algum tempo depois, os cientistas viram que eram dois animais distintos colocados para parecerem um só.

O Museu Nacional do País de Gales foi outro atingido. Após 116 anos exibindo um suposto fóssil de Icthyosaurus, um réptil marinho, a instituição descobriu que se tratava de uma combinação de duas criaturas marinhas, com pedaços feitos de gesso.

Fósseis bem preservados são mais valiosos. Por isso, há muita gente que tenta dar uma "forcinha" para a natureza, criando peças que são verdadeiros Frankensteins. O antigo habitat do pterossauro Anhanguera piscator, na chapada do Araripe, no Nordeste, concentra uma grande diversidade de répteis voadores e é famoso pela boa conservação dos fósseis. Por isso, muito embora a venda de fósseis no Brasil seja proibida, é comum que pessoas explorem a área clandestinamente, já que eles são facilmente encontrados.

O trabalho de Della Vecchia foi apresentado no Rio-Ptero, simpósio internacional de pterossauros no Rio, e provocou reações exaltadas da plateia. Ironicamente, por motivos distintos. A maioria dos pesquisadores brasileiros ressaltou que esse é o tipo de coisa que acontece quando se compram fósseis ilegalmente. Já os estrangeiros ficaram mais preocupados com a falta de confiabilidade de seus fornecedores regulares. O museu, porém, diz não ter a intenção de tirar a peça de exposição. Jorge Wagensberg, diretor científico da Fundação La Caixa, diz que, em breve, a informação de que se trata de uma composição será inserida na descrição da peça.

Apesar de a placa do fóssil no museu não fazer menção ao fato de que se trata de uma composição, Jorge Wagensberg, diretor científico da Fundação La Caixa, divisão de um banco espanhol que é dona do museu, disse à Folha que sabia desde o início que se tratava de uma montagem com vários animais. Segundo Wagensberg, ele comprou o fóssil pessoalmente em 1998, em Denver, nos EUA. Ele diz ter sido acompanhado por dois especialistas. "Só pelo preço eu já sabia que não era original". Paleontólogos ouvidos pela reportagem, no entanto, disseram que duvidam de que o museu soubesse do "Frankenstein" desde o início. "Você queria o quê? Que eles reconhecessem que foram enganados?", perguntou, rindo, um deles. Questionado pela reportagem sobre o fato de não haver qualquer menção no museu sobre o fóssil ser uma composição, considerando que ele diz que isso era um fato conhecido, ele disse: "A área para descrição de cada exemplar é uma placa muito pequenininha. Se fôssemos detalhar tudo, não caberia". Ele diz, no entanto, que vai colocar um pequeno aviso.

Segundo Wagensberg, as composições são um recurso que pode ser usado sem prejuízo quando o objetivo é explicar ao público alguns aspectos mais gerais, como a aparência de um fóssil de perto. Questionado se considerava correto comprar fósseis de países em que esse comércio é considerado ilegal, o diretor disse que só poderia responder sobre os aspectos científicos.

Giuliana Miranda / Folha de S.Paulo

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/117867-museu-da-espanha-exibe-fossil-brasileiro-cheio-de-adulteracoes.shtml


quarta-feira, 4 de setembro de 2013


Eva Mitocondrial

A biologia molecular tem descoberto evidências reais que sugerem que os seres humanos vieram de um único ancestral comum. O DNA dentro do núcleo de nossas células contém genes que nós herdamos tanto de nossa mãe quanto de nosso pai. Interessantes descobertas foram feitas a respeito do DNA. Encontraram mitocôndrias dentro daquilo que se conhece como “estações geradoras de força”, dentro das células, mas fora do núcleo. A mitocôndria também contém esses genes.

Mas eles são transmitidos apenas pela fêmea. Vicent Sarich e Allan Wilson, bioquímicos de Berkeley, apoiando em estudos de outros companheiros que os antecederam e acrescentado novos dados, estavam interessados em fazer um gráfico da migração dos povos ao redor do mundo. Eles procuraram voltar no tempo para achar a mulher que teria transmitido esse DNA mitocondrial.

Coletaram uma seção cruzada de amostras de DNA de mulheres ao redor do mundo e concluíram de sua pesquisa que as características do DNA de todas as mulheres que testaram vieram da mesma mulher. Ela ficou conhecida como a Eva mitocondrial e também chamada de “mãe da sorte”.

Duas coisas precisam se fazer claras. Primeiro, é óbvio que esta não é a Eva da Bíblia, mas nada desabona sua concorrência ao posto de primeira mulher, visto que as evidências apontam para o relato do texto sagrado. Segundo, os bioquímicos alteraram em muitos as datas aceitas para o homem moderno com essa pesquisa o colocando num período bem mais próximo, entre 100.000 e 200.000 anos.


Carlos Carvalho


Referências
Descobertas recentes em Paleoantropologia. http://www.athenapub.com/molclock.htm
Os cientistas por trás da Eva mitocondrial – entrevista. http://io9.com/5879991/the-scientists-behind-mitochondrial-eve-tell-us-about-the-lucky-mother-who-changed-human-evolution-forever
301 provas & profecias surpreendentes. Peter e Paul Lalonde. Actual Edições, 1999. p. 86.


sexta-feira, 23 de agosto de 2013


Introdução Arqueológica ao Estudo Bíblico

A porta para o mundo histórico do Antigo Testamento fora aberta já em 1843 pelo francês Paul-Émile Botta. Em escavações efetuadas em Khursabad, na Mesopotâmia, ele se encontrou inesperadamente diante das imagens em relevo de Sargão II, o rei assírio que despovoou Israel e conduziu seu povo em longas colunas. Os relatos das campanhas desse soberano relacionam-se com a conquista de Samaria, igualmente descrita na Bíblia.

Há cerca de um século, estudiosos americanos, ingleses, franceses e alemães vêm fazendo escavações no Oriente Próximo, na Mesopotâmia, na Palestina e no Egito. As grandes nações fundaram institutos e escolas especializadas nesses trabalhos de pesquisa. Em 1869, foi criado o Palestine-Exploration Fund; em 1892, a École Biblique dos dominicanos de Saint-Étienne; seguindo-se, em 1898, a Deutsche Orientgesellschaft; em 1900, a American School of Oriental Research; e em 1901, o Deutscher Evangelischer Instituí für Altertumskunde.

Na Palestina, são descobertos lugares e cidades muitas vezes mencionados na Bíblia. Apresentam-se exatamente como a Bíblia os descreve e no lugar exato em que ela os situa. Em inscrições e monumentos arquitetônicos primitivos, os pesquisadores encontram cada vez mais personagens do Velho e do Novo Testamento. Relevos contemporâneos mostram imagens de povos de que só tínhamos conhecimento de nome. Seus traços fisionômicos, seus trajes, suas armas adquirem forma para a posteridade.

Esculturas e imagens gigantescas mostram os hititas de grosso nariz, os altos e esbeltos filisteus, os elegantes príncipes cananeus, com seus “carros de ferro”, tão temidos por Israel, os pacíficos e sorridentes reis de Mari — contemporâneos de Abraão. Através dos milênios, os reis assírios não perderam nada de seu semblante altivo e feroz: Teglath  Phalasar III, famoso no Velho Testamento com o nome de Fui Senaquerib, que destruiu Lakish e sitiou Jerusalém, Asaradão, que mandou pôr a ferros o Rei Manassés, e Assurbanipal, o “grande e famoso Asnafar” do livro de Esdras.

Como fizeram com Nínive e Nemrod — a antiga Cale —, como fizeram com Assur e Tebas, que os profetas chamavam No-Amon, os pesquisadores despertaram do sono do passado a famosa Babel da Bíblia, com sua torre fabulosa. Os arqueólogos encontraram no delta do Nilo as cidades de Pitom e Ramsés, onde Israel sofreu odiosa escravidão, descobriram as camadas de fogo e destruição que acompanharam a marcha dos filhos de
Israel na conquista de Canaã, e em Gabaon a fortaleza de Saul, sobre cujos muros o jovem Davi cantou para ele ao som da harpa; em Magedo descobriram uma cavalariça gigantesca do Rei Salomão, que tinha doze mil soldados a cavalo.

Werner Keller (1909 – 1980).  Extraído de “E a Bíblia tinha razão” (E-book em Pdf)

Alemão, Escritor, Jornalista, Engenheiro mecânico, Médico e Doutor em Direito.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013


A evolução do Homem

Muitas pessoas se recusam a crer no relato bíblico de Gênesis porque foram ensinadas que o homem evoluiu do macaco para criaturas parecidas com o homem, conhecidas como hominídeos, e finalmente para o homem moderno. A Bíblia, dizem eles, não faz nenhuma menção a estes homens das cavernas, e por isso ela simplesmente não pode ser precisa. Enquanto parece haver evidências arqueológicas para a existência de tais hominídeos, muitos dos exemplos usados para provar sua existência têm sido ou fraudulentos ou baseado em evidências insuficientes.
Por exemplo, o caso do chamado Homem de Nebraska. Em 1922 um dente molar foi desenterrado no estado de Nebraska. O professor Henry Osborn (não é o Duende-Verde), que era chefe do Museu Norte-Americano de História Natural, afirmou que esse dente pertenceu a um hominídeo primitivo. Uma representação de um artista, baseada em um dente desse suposto homem-macaco foi desenhada. Mais tarde, em 1928, foi descoberto que o dente tinha, na verdade, vindo de um porco extinto. Mas de alguma forma, por incrível que pareça, a descrição do artista continua por aí.
Consideremos o caso de “Lucy”. No meio dos anos 70 o paleontologista Carl Johanson desenterrou, na Etiópia, parte de um esqueleto apelidado de “Lucy”. Ela era supostamente uma representante primitiva de uma linhagem de primatas que era bípede (que anda ereta sobre os pés). Mais tarde fomos informados de que, na realidade, apenas 40% de esqueleto de Lucy havia sido encontrado. Posteriormente, Johanson revelou, numa entrevista na Universidade do Missouri, que a junta do joelho com a qual ele determinou que Lucy era bípede foi descoberta em uma camada de rocha que estava não apenas a 18,5 metros mais abaixo que o resto do esqueleto de Lucy, como também a mais de 800 metros de distância!
Os antropologistas reivindicam que, mesmo que alguns exemplos da linhagem dos primatas sejam falsos, ainda existem casos legítimos o suficiente para provar a existência de hominídeos. Afinal, existem ossos em exibição nos museus que parecem mostrar sua existência. Essa é uma área cinzenta para a qual nem a natureza, nem a Bíblia, oferecem uma solução concreta. O fato de a Bíblia não mencionar esses primatas não significa necessariamente que Deus não os tenha criado. Afinal, a Bíblia não dá (nem se propõe a dar) um relato completo e definitivo da cronologia e das espécies na criação. Ela também não menciona os insetos no relato de Gênesis. É um sumário bem abreviado. Portanto, é natural que categorias inteiras de criaturas tais como os insetos tenham sido omitidas.

Peter & Paul Lalonde

Carlos Carvalho

quarta-feira, 14 de agosto de 2013


Os “caldeirões” das minas de carvão.


Algo que é frequentemente visto em minas de carvão é uma característica conhecida como um “caldeirão”, que aparece como uma rocha circular no teto das minhas. Na verdade, isso é o fundo de um tronco de uma árvore fossilizada que se estende através de diferentes camadas de rocha na mina.

E o que isso tem a ver com a idade da Terra? A resposta está na maneira em que se entende que o carvão seja formado. Acredita-se que várias camadas de turfa se acumulam ao longo dos anos e foram finalmente cobertas por sedimentos no fundo do oceano. Acredita-se que a turfa tenha se transformado em carvão como resultado de grande calor e pressão resultantes do sepultamento debaixo do grande peso das águas e dos sedimentos do oceano.

Sabemos hoje que a lama se acumula no fundo do oceano em taxas que variam entre um a vinte e cinco milímetros por ano. Nessa taxa, levaria milhões de anos para a turfa se transformar em carvão. E o que isso tem a ver com os fósseis de árvores encontrados nas minas de carvão? Se sabemos que o carvão vem da turfa, que por sua vez tem estado submersa debaixo do oceano, isso significa que estas árvores fossilizadas que estão passando através de várias camadas de rocha e carvão, teriam que ter crescido no oceano por milhões de anos.

É bem sabido que estas árvores não podem sobreviver por muito tempo na água salgada – elas se deterioram no máximo em duas décadas. Não restam dúvidas que isso significa um problema e tanto para a teoria da evolução. Esses “caldeirões” são algumas das provas que a Terra não é tão velha quanto os bilhões de anos sugeridos.



Peter & Paul Lalonde

Carlos Carvalho

terça-feira, 6 de agosto de 2013


Cientistas que creem ou não em Deus
Lançando a verdade sobre certas pesquisas de opinião


Em 1916, cientistas diligentes foram inquiridos sobre se acreditavam em Deus, especificamente num Deus que se comunica com a humanidade e a quem se possa orar “na expectativa de receber uma resposta”. Os deístas não acreditam num Deus segundo essa definição. Os resultados ficaram famosos: grosso modo, 40% acreditavam neste tipo de Deus, 40% não acreditavam e 20% não tinham certeza.

Utilizando-se dessa mesma pergunta, a pesquisa foi repetida em 1977 e resultou quase exatamente no mesmo padrão, com um leve aumento dos que não acreditavam (chegando a 45%). O número dos que acreditavam em Deus permaneceu estável, em torno de 40%. Esses resultados, normalmente, podem ser interpretados de todos os modos.

Os ateus tendem a interpretá-los dizendo: “a maioria dos cientistas não crê em Deus”. Não é tão simples. Poderiam ser igualmente afirmados como “a maioria dos cientistas não descrê em Deus”, visto que 55% creem em Deus ou são agnósticos. É preciso, no entanto, ter duas coisas em mente:

A Primeira é que James Leuba, que conduziu a pesquisa original em 1916, previu que o número de cientistas que não creem em Deus aumentaria significativamente com o passar do tempo, como resultado da melhoria da educação. Houve um pequeno aumento no número do que não creem e uma diminuição correspondente dos agnósticos – mas nenhuma redução significativa daqueles que creem.

E a Segunda é que se deve enfatizar mais uma vez que a pergunta dirigida foi muito específica, isto é, se os pesquisados acreditavam num Deus pessoal de quem se esperaria uma resposta de oração. Isso exclui todos aqueles – como o cosmólogo Paul Davies – que acreditam em algum tipo de divindade ou princípio espiritual supremo indicado por evidências.

Se a pergunta tivesse sido feita em termos mais genéricos, poderíamos esperar uma resposta positiva maior em ambas as enquetes. A natureza específica da pergunta é em geral negligenciada por aqueles que analisam os dois resultados, de 1916 e 1977.

Fonte:

O Delírio de Dawkins. Alister McGrath & Joanna McGrath. Mundo Cristão, 2007, p.59-61.