segunda-feira, 25 de novembro de 2013


O Mito dos mitos


J.R.R. Tolkien e Hugo Dyson compartilhavam juntamente com C.S. Lewis a reverência pelo mito, pelo romance e pelos contos de fadas. Em certa e decisiva caminhada noturna, conversaram com Lewis e lhe mostraram que a mitologia revela sua própria espécie de verdade e o cristianismo é mitologia verdadeira. Lewis insistia que os mitos não passavam de “mentiras proferidas por meio da prata”, mas eles responderam que o mito era bem mais explicado como “um vislumbre real, embora desfocado, da verdade divina incidindo sobre a imaginação humana”.

Para eles, a encarnação de Cristo era o ponto principal em que o mito se tornava História. A vida, a morte e a ressurreição de Cristo não só concretizavam o Antigo Testamento, mas também corporificavam – literalmente – motivos centrais encontrados em todas as mitologias do mundo. A visão que Tolkien e Dyson tinham do mito proporcionou a Lewis uma forma de justificar seu eterno amor pela mitologia e de cruzar o limiar da casa da fé cristã. Isso foi decisivo em sua conversão.

Os mitos gregos, as sagas nórdicas e as lendas irlandesas que ele tanto amava já não eram simples tolices escapistas indignas de um ser pensante. Tornavam-se repositórios de verdades ultrarracionais. Proporcionavam percepções, sabidamente parciais e distorcidas, da realidade fora do alcance da indagação lógica. No cristianismo, o verdadeiro mito para o qual todos os outros apontavam, Lewis encontrou uma visão de mundo que ele podia defender como sendo boa e real. O cristianismo passaria a ser, dali por diante, a fonte de todos os mitos e histórias de encantamentos, a chave de todas as mitologias, o mito que desabrocha em história.

Para Lewis, a imaginação passou a ser “o órgão do significado” e o intelecto “o órgão da verdade”. O primeiro gera imagens, metáforas e mitos por meio dos quais nós entendemos o mundo; o segundo pesa, peneira e analisa, discernindo quais produtos da imaginação correspondem mais perto da verdade.


Extraído de:

Downing, David. C.S.Lewis: o mais relutante dos convertidos. David Downing; trad. Almiro Pisetta e Fernando Dantas – São Paulo: Editora Vida, 2006. p. 156 ss.


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O ERRO DE DARWIN
(Extraído) 

Como “Artigo do Mês” apresentamos a seguir o texto de autoria de Enézio E. de Almeida Filho publicado em seu blog http://www.pos-darwinista.blogspot.com.br/2010/08/marcelo-gleiser-e-o-errode-darwin.html.

"Devemos julgar afirmações sobre 'teorias de tudo' com enorme ceticismo; nosso conhecimento é limitado"

Em 1859, com o furor de uma mente devota, o já não tão jovem Charles Robert Darwin, com 50 anos, publica seu segundo livro, "On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favored Races in the Struggle for Life" [A origem das species através da seleção natural ou a preservação das raças favorecidas na luta pela vida].
Nele, o então cientista principiante propõe nada menos do que a solução final para a origem das espécies: o plano totalmente natural e mecanicista através da seleção natural. Segundo Darwin, tudo se deu durante uma leitura desinteressada que fez de Malthus em 1837. Segundo sua autobiografia publicada em 1876, quando lia o princípio malthusiano sobre o crescimento geométrico das populações e o crescimento aritmético dos alimentos, Darwin teve um estalo epistêmico à la Arquimedes:
Se a produção de mais descendentes que podem sobreviver estabelece um ambiente competitivo entre os aparentados, e a variação entre eles produziria alguns indivíduos com maiores chances de sobrevivência, se este princípio malthusiano estivesse correto, isso era sintoma de sua aplicabilidade em uma ordem muito mais profunda.
Eureka! Voilá! Talvez a estrutura biológica seguisse as regras da economia. Fosse esse o caso, a mente humana teria acesso direto aos segredos mais profundos da natureza sem precisar de nenhuma ajuda externa. E a língua em comum entre o homem e a origem das espécies somente seria melhor explicada através da seleção natural ao longo de longas eras.
Após várias tentativas teóricas frustradas, Darwin somente obteve a solução epistêmica que tanto almejava após receber em 1858 o ensaio teórico de Alfred Rusell Wallace muito superior às suas ideias. Na época, alguns naturalistas já falavam em seleção natural e outros mecanismos evolucionistas. Mas a seleção natural era invisível aos olhos europeus vitorianos.
Todavia, Darwin, numa sacada genial, pediu permissão aos leitores para “apresentar um ou dois exemplos imaginários [da ação da seleção natural]”: o lobo e a captura de suas presas [pela astúcia, força e agilidade] e o entrecruzamento de duas flores de plantas distintas através de um líquido/néctar também imaginário, que transmitiriam essas características aos seus descendentes, e assim os mais aptos sobreviveriam devido ao processo de preservação contínua. Portanto, a origem das espécies seria, principalmente, segundo Darwin, decorrente da seleção natural entre outros mecanismos evolutivos!
Darwin foi além, mas precavido. Ele tinha plena consciência de que a sua (e de Alfred Rusell Wallace também) teoria da seleção natural, ilustrada com dois exemplos imaginários, sofreria objeções científicas. Mesmo tendo apenas dois exemplos imaginários, Darwin afirmou que “a seleção natural só pode agir através da preservação acumulação de modificações hereditárias infinitesimalmente pequenas, desde que úteis ao ser modificado”.
Para um homem que acreditava profundamente na natureza, nada mais natural do que uma solução natural. Darwin via seu arranjo como a expressão do sonho dos filósofos gregos antigos de obter uma explicação estritamente naturalista para os mistérios do mundo. Para ele, a teoria da seleção natural [o mais importante entre outros mecanismos evolutivos] era a teoria biológica final para explicar a origem das espécies.
Podemos aprender algo com Darwin. Soubesse ele da existência da complexidade irredutível dos sistemas biológicos, e da informação complexa especificada, como teria reagido? Certamente, seu sonho de uma ordem natural para as coisas vivas dependia do que se sabia na época. Seu erro foi ter dado ao estado do conhecimento empírico do mundo o valor epistêmico para o mero acaso, a fortuita necessidade, e a ação cega da seleção através de longas eras, numa teoria de longo alcance histórico de difícil corroboração no contexto de justificação teórica. Uma Theoria perennis. Uma teoria final.
Para Charles Robert Darwin, era inimaginável que a origem das espécies pudesse se desviar desta estrutura de mero acaso, fortuita necessidade, através da seleção natural. No entanto, sabemos que nosso conhecimento do mundo é limitado, e será sempre. Por isso, devemos julgar declarações sobre teorias de tudo ou teorias finais com enorme ceticismo, inclusive a teoria da evolução através da seleção de Darwin. Afinal de contas, a história da ciência nos ensina que o progresso científico caminha de mãos dadas com nossa capacidade de medir a natureza. Achar que a mente humana pode imaginar a origem das espécies antes de verificá-la empiricamente pode, ocasionalmente, dar certo. Mas, em geral, leva a teorias que existem apenas na imaginação.
Como os exemplos de ação da teoria da seleção natural de Darwin, uma teoria nos seus estertores epistêmicos demandando uma revisão nos seus fundamentos, ou simplesmente descarte, e que outra teoria tome seu lugar: a Síntese Evolutiva Ampliada,  que, pelas montanhas de evidências contrárias, não pode mais ser selecionista à la Darwin.

Este artigo é sintomático do que está sendo urdido atrás dos bastidores, mas  que certamente já tem data marcada para ser lançado em breve ao grande público!

SOCIEDADE CRIACIONISTA BRASILEIRA - BOLETIM MENSAL Nº 15 /2013 – SETEMBRO DE 2013
 e-mail: scb@scb.org.br / site: http://www.scb.org.br