quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Registros Cronológicos Antigos - Parte 4


REGISTROS CRONOLÓGICOS ANTIGOS (Parte 4)

David C. C. Watson
ICR Midwest Center, 207 North Washington. Wheaton. Illinois 60187. USA.

Mostra-se neste artigo que não só as Escrituras, mas também as obras dos escritores pagãos da antiguidade, apontam para um mundo recente, originado há não mais de poucos milhares de anos. Muitas citações são aduzidas para comprovar essa afirmação. Os antigos também não criam em evolução ao acaso, mas sim, em sua maior parte, na fixidez das espécies, e, em praticamente em sua totalidade, no resultado de um planejamento inteligente no mundo ao nosso redor.

Josefo

Flávio Josefo, historiador judeu, foi contemporâneo de Juvenal. Escreve ele com relação ao dilúvio:

Todos os que escreveram a história dos bárbaros fazem menção deste dilúvio e desta arca; dentre eles encontra-se o caldeu Beroso, que ao descrever as circunstâncias do dilúvio acrescenta o seguinte: Diz-se que ainda existem partes desse navio nas montanhas da Armênia, e que algumas pessoas retiram dele pedaços de betume” ... Jerônimo, o egípcio, também, e Mnaseas, e muitos outros, mencionam o mesmo. Nicolau de Damasco em seu livro nonagésimo sexto declara o seguinte: “Há um grande monte na Armênia ... sobre o qual se conta que muitos que fugiram, no tempo do dilúvio foram salvos; em cujo topo desembarcou um personagem que havia sido transportado em uma arca; e os restos do madeiramento da arca forampreservados por muito tempo. Este bem poderia ser a pessoa a respeito de quem escreveu Moisés, o legislador dos judeus.” (5)

Com relação à longevidade dos patriarcas mencionados nos capítulos 5 e 11 do livro de Gênesis, Josefo evidentemente se contrapõe à eventual incredulidade de seus leitores acrescentando:

... “o tempo se encontra registrado em nossos livros sagrados, e os que então viveram anotaram com grande precisão tanto os nascimentos como as mortes dos homens ilustres” (6).

E ainda ...
Tenho agora, por testemunhas daquilo que tenho dito, todos os que têm escrito sobre a História Antiga, tanto entre os gregos como entre os bárbaros; pois concordam com o que eu disse aqui até mesmo Manéton que escreveu a História Egípcia, Béroso que reuniu os Monumentos Caldeus, bem como Mochus e Hestiaeus, e também Jerônimo, o Egípcio, e os que compuseram a História Fenícia. Também relatam a longevidade quase milenar dos antigos, Hesíodo, Hecateu, Helânico e Acusilau, além de Éforo e Nicolau.

Comentário

1 - De fato é sempre possível acusar uma dúzia de historiadores, amplamente espalhados pelo Oriente Próximo, de terem copiado a mesma gigantesca mentira de algum documento isolado, porém muitos acharão mais provável que a longevidade dos patriarcas foi um fato bem conhecido dos filhos de Noé, transmitido a seus descendentes ao se dispersarem, tornando-se os progenitores das diferentes raças humanas.

2 - O fato de que, “todos os que têm escrito as histórias dos bárbaros” mencionam o dilúvio, concorre fortemente a favor do ponto de vista de que ele tenha ocorrido no terceiro milênio e não incontáveis milênios antes.

Tácito (55-120 a.C.) foi o mais célebre historiador do Império Romano na sua época. Em seu livro “Germânia” cita sessenta e três tribos germânicas, registra suas lendas e comenta a respeito de seus costumes e de sua moral. São de interesse os três pontos particulares seguintes:
a) As tribos apontam sua origem divina

Nos cânticos tradicionais que formam o seu único registro do passado, os germanos celebram um deus nascido da terra, chamado Tuisto. Seu filho Mano é considerado como a fonte de sua raça ...”

b) Sua história inicia-se com a Guerra de Tróia ou poucos séculos antes

Os germanos, como muitos outros povos, dizem ter sido visitados por Hércules, e cantam dele como o mais conspícuo de todos os heróis, ao se prepararem para a guerra. Supõem alguns que Ulisses tivesse visitado terras germânicas, tendo fundado a cidade de Asburgo, às margens do Reno, até hoje ainda habitada”.

3 -Algumas tribos eram civilizadas, enquanto outras, na mesma época, eram bárbaras e selvagens

Os chauci são o mais nobre povo da Germânia, preferindo manter sua grandeza através de procedimentos justos. Não atingidos pela avareza nem por ambição desmesurada, habitam em calma reclusão, jamais provocando guerra, nem roubando ou pilhando seus vizinhos ...
Seu código nupcial é restrito, nenhum outro aspecto de sua moralidade merecendo maior louvor”.
Os Fenos são incrivelmente selvagens e revoltantemente pobres. Não têm armas próprias, nem montarias, nem casas. Alimentam-se de folhagens silvestres, vestem-se de peles, e dormem sobre o chão ... a única maneira que têm de proteger seus filhos contra animais selvagens é escondê-los debaixo de uma cobertura improvisada de ramos entrelaçados ...

Novamente esses fatos adaptam-se muito bem à cronologia bíblica pós-dilúvio e à rápida dispersão das raças após a torre de Babel. Esses fatos não parecem concordar com a hipótese da lenta emergência da humanidade a partir de um ancestral animal, através de homens da caverna ao longo de milhões de anos.

Lucrécio

Nossa última testemunha, embora de forma alguma a menos importante, é Lucrécio (100-45 a.C.), poeta romano, ardente discípulo de Epicuro, o fundador da escola filosófica epicurista.

Há questão de um século, quando o Darwinismo constituía o maior espetáculo mundial, os evolucionistas começaram a perscrutar os autores clássicos visando encontrar algum apoio para a nova onda a respeito da origem do homem. Muito pouco pôde ser achado, porém Lucrécio pareceu constituir um candidato promissor, devido à sua negação tanto de toda interferência divina, como da vida após a morte. Andrew White refere-se a ele uma dúzia de vezes na “História da Guerra entre a Ciência e a Religião” (1896) e mesmo há oito anos Sir Gavin de Beer achou valer a pena citar Lucrécio para trazer peso aos seus argumentos contra o propósito na natureza: “O acaso era exatamente o que Lucrécio invocava para explicar os organismos vivos” (Adaptation, 1972, página 2)

Lamentavelmente, porém, o poeta deixava de invocar também o tempo, tempo sem limite, juntamente com o acaso; e será fácil demonstrar que a visão que Lucrécio tinha da origem do mundo concorda muito melhor com o relato bíblico, Deus á parte, do que com a visão de Darwin. Seguem-se algumas citações do seu Livro V:

1 - Por que nenhum poeta cantou os feitos anteriores à Guerra de Tebas e à tragédia de Tróia (1100 a.C.)? A resposta, creio, é que o mundo foi feito recentemente: sua origem é um acontecimento recente, e não de remota antiguidade. Por isso é que ainda hoje algumas artes estão sendo aperfeiçoadas ...

2 - Acontece então que a terra produziu os primeiros mamíferos ... não é surpreendente que se desenvolvessem mais e maiores naqueles dias em que a terra e a atmosfera eram jovens.

3 - Havia grande superfluidez de calor e umidade no solo ... a infância do mundo não provocava fortes geadas, nem calor excessivo, nem ventos violentos.

4 - ... nunca houve nem jamais poderá haver criaturas com dupla natureza, combinando órgãos de origem distinta no mesmo corpo ...

5 - Os animais não podem ter caído dos céus, e os que vivem sobre a terra não podem ter emergido dos mares salgados ...

6 - O nome de “mãe” foi corretamente aposto à Terra, pois ela produziu a raça humana e fez nascer a todos os animais ... e ao mesmo tempo as aves do ar ...

Se fosse sugerido a Lucrécio que a raça humana havia evoluído de ancestrais simiescos, ele ter-se-ia rido. A única evolução postulada por ele é a do homem primitivo ao homem civilizado, e dentro de alguns poucos milênios.

7 - As variedades de ervas, cereais e árvores não podem ser produzidas nessa forma composta: cada tipo se desenvolve de acordo com sua própria espécie, todos guardando seus característicos específicos próprios em obediência às leis da natureza.

8 - Outra lenda conta como as águas certa vez juntaram suas forças e começaram a prevalecer, até que muitas cidades dos homens foram afogadas sob esse dilúvio.

Assim, há milhares de anos Lucrécio, um filósofo ateu cujo propósito impelente era livrar o mundo da “superstição” pelo ensino da “ciência”, acreditava em:

a - Uma Terra recente

b - Mais e maiores animais nos tempos pré-históricos (recentes)

c - Clima original ideal

d - Não existência de criaturas híbridas

e - Terra não conquistada pelas criaturas do mar

f - Origem simultânea de todas as criaturas com o homem

g - Fixidez das espécies

h - Um dilúvio gigantesco

E esse é o melhor apoio que pode ser encontrado no seio dos filósofos do mundo antigo pelos partidários da teoria da evolução!

Lenda Babilônica

À guisa de “postscriptum” lançaremos uma olhadela na versão babilônica do dilúvio -em tabletes de argila considerados não anteriores a 2000 a.C. Se o dilúvio teve lugar, como alguns estudiosos afirmam, pelo menos há três mil anos antes de Abraão (2000 a.C.), como poderia sua história ter sobrevivido por tradição oral ao longo de uma centena de gerações? Observe-se também que o ideograma chinês que representa navio compõe-se do número oito acrescido de bocas, que sugere fortemente Noé e sua família na arca. Isto está bem de acordo com o fato de que a escrita chinesa mais antiga data aproximadamente de 2200 a.C., provavelmente um século ou dois após o dilúvio. E não está de acordo, de maneira nenhuma, com a ideia de que a escrita só foi inventada depois de milhares de anos após o dilúvio, época em que centenas de outras histórias relacionadas com navios ter-se-iam tornado muito mais conhecidas do que a história de Noé.

Continua...

Carlos Carvalho

Não Sou Ateu, Brasil

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Registros Cronológicos Antigos - parte 3


REGISTROS CRONOLÓGICOS ANTIGOS (Parte 3)

David C. C. Watson
ICR Midwest Center, 207 North Washington. Wheaton. Illinois 60187. USA.

Mostra-se neste artigo que não só as Escrituras, mas também as obras dos escritores pagãos da antiguidade, apontam para um mundo recente, originado há não mais de poucos milhares de anos. Muitas citações são aduzidas para comprovar essa afirmação. Os antigos também não criam em evolução ao acaso, mas sim, em sua maior parte, na fixidez das espécies, e, em praticamente em sua totalidade, no resultado de um planejamento inteligente no mundo ao nosso redor.

Ovídio

Um dos paralelos mais próximos dos capítulos 1 a 11 de Gênesis encontra-se nas “Metamorfoses” de Ovídio, famoso poeta romano que viveu de 43 a.C. a 17 a.C. De fato, o paralelismo é tão grande que alguns estudiosos julgam que Ovídio tinha o Velho Testamento ao seu lado ao escrever as “Metamorfoses”. Entretanto, mesmo que ele o tivesse, certamente não teria escrito para um leitor romano ideias que fossem peculiares aos judeus. Parece mais provável que, se Ovídio tivesse lido Moisés, simplesmente tivesse aceito que a narrativa hebraica dava forma mais definida às vagas lendas que por séculos estiveram difundidas entre seu próprio povo. Faremos algumas transcrições da tradução em inglês feita por Loeb:

A Criação

Logo após o Criador ter assim separado todas as coisas dentro de seus limites determinados, as estrelas começaram a brilhar nos céus. ... O mar tornou-se a habitação de brilhantes peixes, a terra recebeu os animais, e o ar em movimento as aves.

O Homem

Faltava ainda uma criatura viva de mais refinada consistência do que essas, mais capacitada a pensamentos elevados, que pudesse ter o domínio sobre todo o restante. Então nasceu o homem. ... O artífice do universo, tencionando um mundo mais perfeito, fez o homem de Sua própria substância divina. ... Assim, então, a Terra, que até recentemente tinha sido uma coisa rústica e sem forma, foi mudada, e revestida de formas humanas anteriormente desconhecidas.

A Idade de Ouro

Áurea foi aquela primeira idade, na qual, sem ninguém para exercer a força, sem necessidade de lei, todos agiam corretamente. ... A primavera era eterna, e brisas suaves brincavam com as flores que nasciam sem cultivo ... a terra sem necessidade de amanho produzia abundância de grãos ... torrentes de leite manavam e mel destilava de verdejantes carvalhos.

Os Gigantes

Dizem que os gigantes tentavam atingir o próprio trono do céu, empilhando montanhas sobre montanhas, em direção às estrelas ...

A Pecaminosidade da Raça Humana

Por onde quer que se estendam as planícies da terra, reina suprema fúria animalesca. Parece existir a generalização da criminalidade. Que eles paguem a pena que merecem.

O Dilúvio

Júpiter ... preferiu uma punição diferente, destruir a raça humana sob as ondas e enviar chuva de todos os quadrantes do céu ... e agora não há distinção entre o mar e a terra. Tudo é mar, e mar sem praia. ... O lobo nada entre os cordeiros, leões e tigres são levados de roldão pelas ondas...

Salvo pela Fé

Quando Deucalião e sua esposa, abrigados em um pequeno barco, repousaram sobre a terra (no Monte Parnaso), a primeira coisa que fizeram foi adorar ... não houve homem melhor do que ele, mais escrupuloso em sua retidão, nem mulher mais reverente aos deuses do que ela.

Restauração da Terra

Então, quando a terra coberta de lama do dilúvio recente, aqueceu-se com os quentes raios do sol, produziu incontáveis formas de vida ... também o grande píton, uma serpente anteriormente desconhecida, que foi um terror para o homem recém criado. ... Apolo destruiu esse monstro, e para que a fama deste seu ato não perecesse através do tempo, ele instituiu os sagrados “jogos píticos”, em lembrança do nome da serpente que destruíra. Nesses jogos todo jovem vencedor ... recebia a honra de uma coroa de folhas de carvalho. Pois até então não existia o louro ... (Ovídio continua narrando a lenda do louro ... como Dafne se transformou em árvore para escapar das atenções de Apolo).

Observação: Tanto quanto sabemos, os Jogos Píticos tiveram início não antes de 1.000 a.C. Parece provável, portanto, que na mente de Ovídio o dilúvio teria ocorrido não mais do que dois mil anos antes de sua época, pois senão não haveria razão pela qual tivesse ele ligado o píton com o dilúvio.

Juvenal

Juvenal viveu em Roma no primeiro século da era cristã, e escreveu doze livros de sátiras sobre a sociedade da época, castigando todos os vícios, a ignorância e a leviandade. Teve palavras sábias incentivando os pais a oferecerem exemplos dignos para seus filhos. Dentre “maus” exemplos inclui o pai judeu que “todo o sétimo dia se entrega à ociosidade, mantendo-se desligado das preocupações da vida”.

Paremos um pouco para pensar nisso. Temos aqui o povo escolhido de Deus vivendo no coração do mais poderoso império mundial ... e pelo que são eles distinguidos? Pela guarda do sábado! (Pela circuncisão também, mas várias outras raças além dos judeus a praticam). Por esse costume singular são eles ridicularizados e difamados. Isto vinha acontecendo por seis séculos, desde a queda de Jerusalém (nos tempos de Nabucodonosor), portanto por cerca de 30.000 semanas. E continuou por mais 100.000 semanas. Até hoje, o então povo de Deus celebrou cerca de 130.000 sábados ao redor de todo o mundo, em sua dispersão entre os gentios. Pois bem, haveria Deus de querer que isso fosse um testemunho do que realmente Ele fizera no espaço e no tempo? Ou seria a guarda do sábado uma espécie de anedota cósmica destinada a fazer o mundo todo rir às custas dos judeus? Poderíamos crer na bondade e na veracidade de Deus se Ele permitisse Seu povo ser escarnecido semana após semana, ano após ano, século após século, por participar de uma encenação que de fato constituísse uma estupenda mentira? Para muitos parecerá mais provável ter Deus dado aos judeus esse singular mandamento do sábado, sem qualquer paralelo em todo o mundo pagão, para se tornar um memorial permanente -mais impressionante do que as pirâmides -de Seu ato da Criação, único e específico.

Na realidade isso se reveste de importância somente com relação à pergunta “há quanto tempo?” e não com o “quando?” da criação. Entretanto, se admitirmos que Êxodo 20:11 deve ser uma verdade literal, pareceria existir bom fundamento para aceitar os capítulos 5 e 11 de Gênesis também como cronologicamente literais ... como certamente faziam os judeus na antiguidade.
Continua...

Carlos Carvalho

Não Sou Ateu, Brasil!

sábado, 6 de agosto de 2016

Registros Cronológicos Antigos - parte 2

REGISTROS CRONOLÓGICOS ANTIGOS (Parte 2)

David C. C. Watson
ICR Midwest Center, 207 North Washington. Wheaton. Illinois 60187. USA.

Mostra-se neste artigo que não só as Escrituras, mas também as obras dos escritores pagãos da antiguidade, apontam para um mundo recente, originado há não mais de poucos milhares de anos. Muitas citações são aduzidas para comprovar essa afirmação. Os antigos também não criam em evolução ao acaso, mas sim, em sua maior parte, na fixidez das espécies, e, em praticamente em sua totalidade, no resultado de um planejamento inteligente no mundo ao nosso redor.

Cícero

Perto do fim de sua vida, o orador romano Cícero (104-43 a.C.) escreveu um tratado sobre “A Natureza dos Deuses”, abordando toda a filosofia grega e romana. Ele faz menção a uma “Idade de Ouro” de vegetarianismo na qual os homens “não faziam dano algum aos bois”, e insiste que:

a) as estrelas e muitos dos produtos da Terra foram criados somente para o benefício do homem, e
b) muitos animais foram criados para servir o homem. Ao discutir contra a ideia de que os deuses teriam forma humana, cita um poeta latino anterior que diz:

Como se parece conosco em seu formato
Aquele disforme animal, o macaco!

Porém, diz Cícero, semelhança física externa não indica modo de vida semelhante (os hábitos dos macacos não são os nossos), e inversamente semelhança espiritual não é sinal de semelhança física. Assim, “os deuses devem ter consciência e razão como nós, porém isso não demonstra que se pareçam conosco”. Cícero aqui intuitivamente abordou uma importante descoberta da genética moderna: a semelhança da estrutura física não indica necessariamente a descendência de um ancestral comum. A semelhança é “irrelevante”.

Em todo o livro não há uma sílaba que sugira a ideia de gradualismo ou de transformação de uma espécie de criatura em outra. Epicuro (nascido em 342 a.C.) é citado como tendo dito que

“... o mundo foi feito por um processo natural, sem qualquer necessidade de um Criador; e esse processo de fato opera tão facilmente que a natureza criou, está criando, e criará mundos sem fim”.

Em outras palavras, não mais são necessários “aeons” de tempo; a “natureza” pode tirar um coelho da cartola em qualquer momento, e continuar a fazê-lo! Desta forma, mesmo um ateu não vem em apoio às teorias geológicas de Charles Lyell! Embora não sendo estritamente relevantes à questão do tempo, alguns outros poucos parágrafos de Cícero mostrarão que argumentos contra a evolução e a favor da criação têm sido considerados claramente por pensadores diversos pelo menos há dois mil anos. William V. Mayer, escrevendo no “NABT Compendium on the Evolution-Creation Controversy” (página 96) tenta mostrar o filósofo grego Tales (640-546 a.C.) como um darwinista anterior a Darwin. Entretanto, ele não nos diz, como o faz Cícero, que Tales declarou:

“da água a mente de Deus criou todas as coisas!

Mayer chama Empédocles (495-435 a.C.) de “fundador da ideia da Evolução”. Talvez tivesse sido, porém leiamos o comentário de Cícero sobre essa escola filosófica:

Não é incrível que alguém possa levar-se a si mesmo a acreditar que numerosas partículas sólidas separadas, mediante suas colisões ao acaso, e movidas somente pela força de seu próprio peso, pudessem, trazer à existência um mundo tão belo e maravilhoso? Se alguém pensa isso ser possível, não vejo por que também não deveria pensar que, se um número infinito de exemplares das vinte e uma letras do alfabeto, feitas de ouro ou do que se quiser, fossem misturadas e lançadas ao chão, seria possível caírem formando, por exemplo, o texto dos Anais de Ennius. De fato, duvido que o acaso permitisse a composição de um único verso!. Assim, como pode essa gente induzir-se a afirmar que o universo foi criado por colisões cegas e acidentais de partículas destituídas de cor e de qualquer outra qualidade? E ainda mais, afirmar que um número infinito de mundos semelhantes estão vindo à existência e desaparecendo ao longo do tempo! Se essas colisões de átomos ao acaso podem construir um mundo, por que não podem construir um pórtico, um templo, ou uma casa ou uma cidade? Seria uma tarefa muito mais fácil e menos trabalhosa” (1).

Aristóteles também tem sido com frequência invocado (ingenuamente) como um campeão da evolução, porém seus sentimentos reais foram preservados por Cícero (de um livro desaparecido):

Imaginemos uma raça de homens, que tenha sempre vivido debaixo da terra, em belas e nobres residências, embelezadas por pinturas e estátuas, e mobiliadas com tudo que a riqueza possa produzir para seu conforto. Imaginemos que esses homens nunca tenham vindo à superfície da terra, mas que tenham ouvido, por rumores ou boatos, da existência do divino reino dos deuses. Imaginemos, então, que em algum instante a terra se abrisse e eles fossem capazes de escapar e vir dessas suas habitações escondidas para os lugares em que vivemos. Quando, ao mesmo tempo vissem a terra, o mar e o céu, contemplassem a majestade das nuvens e sentissem o poder do vento, vissem o sol em seu esplendor e viessem a compreender o seu poder, trazendo a luz do dia ao mundo, espalhando sua luz pelo céu; e então, quando a noite lançasse sua sombra sobre a terra, e vissem o céu com a fulgurância e a glória das estrelas, o brilho variável da lua em suas fases, o nascer e o pôr desses corpos celestes, e seu curso seguro e imutável durante toda a eternidade; quando vissem todas essas coisas, não ficariam convencidos imediatamente da existência dos deuses, e de que todas essas maravilhas são obra de suas mãos?. (2)

Finalmente, não posso deixar de incluir um parágrafo que já há dois mil anos atrás nos recordava de nossa humilde origem:

Se alguém tentasse aperfeiçoar algo na natureza, ou o tornaria pior ou estaria tentando o impossível. Todas as partes do universo são feitas de tal forma que não poderiam melhor adaptar-se à sua função, ou melhor parecer em sua estética”.
“Consideremos agora se tudo isso é acidental, ou se o mundo todo está constituído de tal maneira que não poderia manter sua unidade sem o espírito diretor da Divina Providência.
... Ao se contemplar um quadro ou uma escultura, reconhece-se nele uma obra de arte. Ao se viajar de navio pelo mar, não se questiona estar ou não ele sendo dirigido por uma inteligência capacitada. Ao se deparar com um relógio de sol ou com uma clepsidra, conclui-se que eles marcam o tempo em decorrência de algo planejado ou projetado, e não por acaso. Como, então, se pode imaginar que o universo como um todo seja destituído de propósito e de racionalidade, visto que ele compreende tudo, incluindo esses mesmos artefatos e seus artífices? Nosso amigo Posidônio, como é sabido, recentemente construiu um globo que em sua rotação mostra os movimentos do Sol, das estrelas e dos planetas, de dia e de noite, reproduzindo exatamente o que contemplamos no céu. Ora, se alguém tomasse esse globo e fosse mostrá-lo aos habitantes da Bretanha ou da Cítia, por acaso haveria um só desses bárbaros que não compreendessem ter sido ele o resultado de uma consciência inteligente?
Nossos opositores, entretanto, professam estar em dúvida quanto ao universo, a fonte e a origem de todas as coisas, ter vindo à existência por acidente, por necessidade, ou como o resultado da ação de uma inteligência divina. Imaginam eles que Arquimedes tenha demonstrado maiores poderes por imitar os movimentos dos corpos celestes em um modelo, do que a natureza em realizá-los. No entanto, os movimentos reais são muitíssimo mais sutis do que a sua própria imitação. (3)
Assim, deixemos de lado todos os sofismas da argumentação, e simplesmente deixemos nossos olhos confessar o esplendor do universo, deste mundo que afirmamos ser criado pela providência de Deus.” (4)

Resumindo: Cícero foi um dos mais cultos e prolíficos escritores do mundo antigo. Suas cartas, discursos e tratados preencheriam dois volumes de porte equivalente ao de uma Bíblia. Entretanto, um evolucionista poderia procurar dia e noite, por anos a fio, em suas centenas de milhares de palavras, qualquer apoio em favor de Darwin, por mínimo que fosse, e não o encontraria. Como um experiente advogado, Cícero preferia acreditar na evidência de seus sentidos, no registro da história, e nos fatos da natureza, e não nas hipóteses especulativas de filósofos desligados da realidade.
Continua...

Carlos Carvalho

Não Sou Ateu, Brasil!