quarta-feira, 5 de outubro de 2011

POLITIZAR OU NÃO POLITIZAR, EIS A QUESTÃO

Por Altair Germano

Em tempos de eleições, sempre resurgem na igreja as discussões e debates sobre o papel e posicionamento político da mesma.


Em meio a estas discussões, pelo menos três pontos de vistas se destacam:

- Os extremamente resistentes
- Os exageradamente entusiastas
- Os equilibradamente posicionados


Qual a maior missão da Igreja? Em minha opinião, evangelizar o mundo através do testemunho (At 1.8), da pregação Mc 16.15), do ensino (Mt 28.18-20).

A igreja, enquanto cumpre a grande comissão, deve ser politizada? O que significa politização?

Politizar, segundo o dicionário de Houaiss, significa:

"dar ou adquirir consciência dos direitos e deveres do cidadão."

O dicionário Aurélio define politizar nos seguintes termos:

"Inculcar a (certas classes ou categorias sociais) ou a (indivíduos dessas classes) a consciência dos deveres e direitos políticos dos cidadãos que as compõem, preparando-os para o livre exercício deles: politizar os trabalhadores." e ainda "Tornar-se consciente dos deveres e dos direitos políticos; tornar-se politicamente consciente: Politizou-se, participando de movimentos estudantis."

O Wikcionário afirma:

"trabalhar pela formação política dos indivíduos e pela sua conscientização, em relação à realidade política que os cerca"

Entendendo o significado de politizar, verificaremos que no Novo Testamento a politização (tomada de consciência da realidade política, dos direitos e deveres dos cristãos enquanto cidadãos terrenos) está evidenciada, dentre outras, através das seguintes passagens:

- Sobre o dever de pagar impostos:

"Chegando, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens; antes, segundo a verdade, ensinas o caminho de Deus; é lícito pagar tributo a César ou não? Devemos ou não devemos pagar?Mas Jesus, percebendo-lhes a hipocrisia, respondeu: Por que me experimentais? Trazei-me um denário para que eu o veja.E eles lho trouxeram. Perguntou-lhes: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César. Disse-lhes, então, Jesus: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. E muito se admiraram dele." (Mc 12.14-17)

"Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra. " (Rm 13.7)

- Sobre a origem da autoridade do poder temporal:

"Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem. " (Jo 19.11)

- Sobre o dever de se submeter às autoridades:

"Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. " (Rm 13.1)

- Sobre o direito de não se submeter às autoridades: "Mas Pedro e João lhes responderam: Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos." (At 4.19-10)

- Sobre o direito de honrar as autoridades:

"Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei. " (1 Pe 2.17)

- Sobre o dever de orar pelas autoridades:

"Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens,em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito." (1 Tm 2.1-2)

- Sobre o direito/dever de denunciar o pecado das autoridades:

"Porque Herodes, havendo prendido e atado a João, o metera no cárcere, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão; pois João lhe dizia: Não te é lícito possuí-la." (Mt 14.3-4)

- Sobre a legitimidade de reivindicar e exercer os direitos como cidadãos:

"Quando o estavam amarrando com correias, disse Paulo ao centurião presente: Ser-vos-á, porventura, lícito açoitar um cidadão romano, sem estar condenado? Ouvindo isto, o centurião procurou o comandante e lhe disse: Que estás para fazer? Porque este homem é cidadão romano. Vindo o comandante, perguntou a Paulo: Dize-me: és tu romano? Ele disse: Sou. mediatamente, se afastaram os que estavam para o inquirir com açoites. O próprio comandante sentiu-se receoso quando soube que Paulo era romano, porque o mandara amarrar." (At 22.25-29)

A dificuldade que alguns possuem em não reconhecer no Novo Testamento a presença de ensinos e orientações politizantes, é pelo fato do seu contexto político não ser o de um regime democrático, mas sim, um misto de monarquia e imperialismo. Em tais regimes o povo não possuía o direito de votar e ser votado.

Dessa forma, se percebe que não há problema algum, quando nos dias atuais alguns líderes cristãos resolvem ensinar, orientar e advertir a igreja quanto às questões políticas de nossa época (direitos e deveres), com base em princípios bíblicos, visto que não há normas específicas no texto sagrado, que diga qual deve ser a postura do cristão numa democracia, principalmente quanto o assunto é votar e ser votado.

É politizando que se combate a politicagem.

É politizando que se combate a manipulação.

É politizando que se combate a corrupção.

É politizando que se combate a alienação.

É necessário pregar o Evangelho ao mundo.

É necessário politizar a Igreja.

É necessário orar pelas autoridades.

É necessário denunciar as autoridades.

É necessário ensinar e promover a obediência às leis justas, que contribuem para manter a ordem social, a dignidade humana e o valor da família.

É necessário ensinar e promover a resistência às leis injustas, que cooperam para a promoção da anarquia, da imoralidade e da destruição da família.

Se temos o direito de votar, façamos isto de forma consciente, pedindo a Deus sabedoria e discernimento.

Num regime democrático representativo como o nosso, a escolha de um candidato implica em dizer que as ideias, falas, decisões e ações dele são as mesmas dos seus eleitores, ou por eles autorizadas.

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