segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Quando Deus não intervém

Não sou o primeiro a fazer as perguntas: porque Deus não agiu? Porque Ele não fez nada? Será que Ele não se importa? Ou outras semelhantes. Da mesma forma, não sou o primeiro a tentar respondê-las e procurar dar algum sentido lógico a essa grande “negativa divina” em certos momentos na História e em nossas vidas.
    Certamente Deus não precisa ser defendido por mim ou por ninguém e não necessita de advogados para lutarem por Sua causa, mas eu preciso de algum tipo de resposta que supra minha necessidade intelectual, emocional e até mesmo existencial e que satisfaça os meus anseios mais profundos.
    Se conseguir satisfazer e preencher minha mente com essas respostas, então terei condições de viver, conviver, lutar, resistir, sofrer e esperar por algo melhor ao final da jornada ou quem sabe apenas ao final do dia. Já será suficiente ter nem que seja uma pequena partícula de entendimento mental sobre essa “não-ação” de Deus para assim continuar prosseguindo.
    Quando me debrucei sobre o assunto de Deus não intervir em certos momentos da História ou de minha vida, fiz a Ele em oração alguns comentários sobre certos personagens da Bíblia e questionando porque em determinados momentos da vida deles, naqueles que mais pareciam ser necessários (na minha perspectiva!), Deus não agiu?
    No caso de Adão (Gên.3:6), Deus sabendo que ele iria tomar do fruto proibido, e que Eva iria oferecê-lo a Adão, Deus não interviu. O mesmo Deus que todas as tardes vinha ao Éden para conversar com Adão.
    Depois que teve o trabalho de enviar anjos para retirar a Ló de Sodoma, antes de destruí-la, Deus não impediu que suas filhas o embebedassem e gerassem filhos incestuosos (Gên.19:30-36).
    Deu grandes sonhos a José, e, no final iria fazê-lo governador do Egito, mas não impediu que seus irmãos, por inveja, o vendessem como escravo aos midianitas e se tornasse um objeto de venda comum (Gên.37:26).
    Retirou o reino de Saul e o deu a Davi, permitiu que ele vencesse a Golias e estabelecesse seu reino com tantas vitorias milagrosas, mas não impediu que ele adulterasse com Batseba e desse a ordem para que seu marido fosse colocado na frente de batalha para morrer (II Samuel 11).
    Deu um reino pacífico a Salomão por uma geração, deu-lha uma sabedoria e riqueza que se tornaram lendárias, mas ao fim de sua vida, por causa da quantidade de esposas e concubinas, abandonou sua devoção a Deus e serviu e se prostrou a outros deuses, e Deus não agiu (I Reis 11:1-11).
    Deus dá a Jó uma grande prosperidade, no final de sua tragédia pessoal lhe restitui em dobro o que ele perdeu, lhe fala pessoalmente e longamente acerca da criação num dos mais belos textos poéticos da humanidade, mas não responde a Jó porque permitiu que Satanás fizesse o que fez com ele (Jó 1 e 2).
    Dá a Sadraque, Mesaque e Abdenego um livramento espetacular da fornalha de fogo extremamente aquecida de Nabucodonosor, envia um anjo que lhes salva do fogo dentro do fogo, mas não impede o drama de serem sentenciados a morte por não adorar a outro deus (Daniel 3:20-23).
    Pedro foi escolhido por Jesus para ser o primeiro dos apóstolos, mesmo sendo um dos mais improváveis indivíduos para uma tarefa de tamanha envergadura que ultrapassaria os séculos, andou sobre as águas, fez muitos milagres, mas Deus não o impediu de negar a Cristo (Mateus 25:69-75).
    Estevão foi um dos primeiros diáconos da igreja primitiva, cheio do Espírito Santo, poderoso nas Escrituras e capaz de fazer calar os mais sábios dos judeus religiosos de sua época, mas foi apedrejado em praça pública, e Deus... (Atos 7:57-60).
    Tiago, um dos doze apóstolos de Jesus, sem nenhum motivo aparente, foi aprisionado à revelia por capricho de Herodes Agripa I e foi morto à espada. Deus mais uma vez não interviu (Atos 12:1,2).
    No fim da minha listinha está Paulo, que foi convertido com a aparição do próprio Jesus em glória, usado extraordinariamente por Deus em milagres, exorcismos e curas, mas não foi livre de ser açoitado e trancafiado na prisão, amarrado pelos pés (Atos 16:22-24).
    Quando ao final de minha explanação ao Senhor Deus, lhe pedi perdão por parecer que O estava julgando ou questionando sua majestade e poder, tornando-me um rebelde ou um ateu cínico. Não era esse meu intento, mas sim de lhe pedir alguma resposta, se é que Ele pudesse me oferecer alguma.
    Depois de alguns dias (isso mesmo!), veio ao meu entendimento – e é assim que o Espírito Santo fala comigo – três respostas ao porque Deus não intervém nos momentos que achamos que Ele deveria intervir. Confesso que estas respostas satisfizeram minha mente e podem não fazer o mesmo com você, mas pra mim foi suficiente.

Porque Deus não intervém?

Primeiro – Porque ele é Soberano
    Quando lemos a oração de Ana em I Samuel 2:1-10 percebemos sua soberania de forma majestosa e plena. Leia e desfrute da inspiração de uma mulher plenamente agradecida a Deus por seu milagre, que ficaria com ela apenas alguns anos, pois o tinha prometido ao Senhor.
    Sendo assim, Deus não intervém porque Ele é Soberano, Ele É o que É (lembram do Eu sou o que Sou?). Ele não precisa e nem vai dar a nenhum de nós explicações do porque fez ou não fez, simplesmente porque não precisa fazê-lo. Isso é a maior das características da soberania: não precisar dar explicações acerca de seus motivos.
    Nós precisamos dar explicações. Nós precisamos prestar contas. Nós precisamos dar satisfações de nossas vidas e motivos. Deus não.

Segundo – Porque Deus não é passional nem parcial
    Isso é incrível. Somente queremos que Deus aja em certas situações que consideramos injustas ou malignas por causa da nossa passionalidade ou parcialidade de como vemos ou interpretamos as coisas.
    Deus não é movido por paixões, por passionalidade, nem vê as coisas ou pessoas com parcialidade. Ele é perfeito em seus julgamentos e juízos, mas temos dificuldades em aceitar isso porque somos movidos na maioria das vezes por nossas paixões (aqui não em sentido baixo) ou reações.
    Leia os textos de Mateus 5:45 e Romanos 2:11 e perceberá como Deus vê. Ele não interpreta segundo nosso modelo de conceitos. Ele é Deus. Ele não vai agir por impulso, pois sabe qual o melhor momento para agir ou para não agir e deixar as coisas seguirem até o plano por Ele traçado se cumprir.

Terceiro – Porque Ele permite as nossas escolhas
    Tenho dito aos meus ouvintes que, não contando o início de nossa infância, a vida que temos hoje é fruto de nossas escolhas, boas ou ruins. O livre arbítrio foi o maior presente de Deus ao ser humano na sua origem e até os nossos dias o homem não sabe usá-lo.
    Leia todos os versículos de Deuteronômio 30:15-19 e verá que, embora Deus seja soberano e deseja que sua vontade seja feita na terra, não nos privou de escolhas. Desde o início Ele deixa claro a todos que as escolhas de cada um resultam em conseqüências positivas e negativas.
    Poderíamos dizer que é questão de causa e efeito e pareceria algo inteligente, mas mesmo a lei da causa e efeito foi escrita por Deus e ela está também relacionada em muito com as escolhas feitas. Podemos usar exemplos extremos: o Vesúvio explodiu, destruindo Pompéia, mas os habitantes escolheram morar naquela região. Os morros de algumas cidades descem por causa das chuvas e soterram casas e matam pessoas, mas elas escolheram morar ali (não importando a desculpa que se dê!). Os tsunamis arrasam por onde passam, mas pessoas escolheram morar em áreas próximas ao mar e em áreas de alta instabilidade continental. Os exemplos drásticos podem se multiplicar e não quero ser julgado como insensível ou algo parecido.

    CONCLUO dizendo que para minha mente questionadora, Deus deu-me algumas respostas satisfatórias. É claro que elas não respondam a tudo, mas já é um começo. Precisamos ter coragem para pensar e refletir sobre isso sem sermos taxados ou estereotipados de gente que não compreende o sofrimento dos outros, de pessoas sem sentimentos ou sem compaixão por tratarmos de certos assuntos.
    Acredito que Deus não intervém por esses motivos acima descritos, mas podem ser apenas conceitos de minha mente e não da mente de Deus. Também não estou dizendo que Ele não vai agir. Acredito da mesma forma que Deus age na História e em nossas vidas nos dias de hoje. Mas mesmo assim, Ele age quando quer, como quer e da forma que bem quer, pois Ele é DEUS. Nós somos apenas homens.
    Como podemos mudar essas situações negativas em nossas vidas? Fazendo escolhas corretas ou compreendendo melhor os fatos que nos cercam. Também acredito que Deus não intervém porque um grande número de coisas não estaria acontecendo conosco se tivéssemos dado tempo suficiente para Ele nos responder ou tivéssemos feitos as escolhas que deveríamos fazer.
    Penso por fim, que Deus não intervém porque existem coisas, e precisaríamos saber disso, que nós temos que resolver e corrigir e não passar a responsabilidade para Ele. Afinal, todos nós queremos liberdade, maturidade e direito a fazer nossas escolhas, mas quando o resultado não é o que esperamos, culpamos a Deus ou culpamos aos outros.
    Como Adão, culpamos a Deus pela mulher que nos deu ou culpamos a mulher que nos ofereceu o fruto proibido, mas não queremos responder pelas conseqüências negativas de nossas escolhas. Deus realmente não vai intervir!
Pense nisso!



Por Carlos Carvalho

Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica


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